Uma em cada oito pessoas irá necessitar de tratamento para depressão em algum momento de sua vida, e essa proporção aumenta a cada dia. A depressão aumentou praticamente 10 vezes em apenas um século, e está atacando cada vez mais cedo. Por qual motivo a depressão está aumentando tanto? Acredita-se que não exista uma única depressão, mas várias. Para um médico psiquiatra, a tristeza que se segue a um evento de perda é muitíssimo diferente da depressão que segue seu curso independentemente do que aconteça no meio social da pessoa e das suas experiências individuais. De modo geral, a depressão pode ter origem entre fatores puramente situacionais, como a depressão que se segue a uma perda de pessoa querida seguida do luto, até ser consequência de fatores puramente biológicos, como a depressão que aparece e se mantém sem motivo algum. Mas seja ela qual for, parece que é fortemente afetada pelas condições de vida e crenças de cada época. Até os anos 50, a ansiedade dominou o cenário. Não é de espantar que Sigmund Freud acreditasse que quase todas as ações humanas e boa parte dos transtornos mentais tivessem origem na ansiedade. Já nossa época, ao que parece, está muito mais marcada pela falta de controle e impotência diante dos acontecimentos. Contrastando com os valores caóticos, com a dissolução da ordem mundial da primeira metade do século passado, nosso tempo possui valores mais estáveis, aonde cada pessoa sabe razoavelmente bem onde está e para onde caminha. O problema aparece justamente nos fracassos desse caminho, nas tentativas malogradas em se alcançar o poder, a posse e o domínio de bens materiais e outros menos palpáveis. Assim, e a meu ver, o controle da depressão passa, necessariamente, por uma revisão dos valores pessoais, especialmente da competição insana e da luta por poder e ostentação. Mas há boas novas. Várias abordagens de tratamento, tanto medicação tradicional quanto abordagens não convencionais – mas que possuem evidências científicas de qualidade, segurança e eficácia – têm avançado muito e prometem bons horizontes para quem sofre de depressão. Nota do Editor: Cyro Masci é médico psiquiatra e clínico geral.
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