O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa é uma oportunidade para lembrar ao mundo a importância da proteção dos direitos fundamentais da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa, conforme enunciado no Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Sem esses direitos, a democracia não consegue prevalecer e o desenvolvimento permanece inatingível. Uma mídia independente, livre e plural tem um papel crucial na boa governança de sociedades democráticas, assegurando a transparência e a prestação de contas, promovendo a participação e o Estado de Direito e contribuindo para o combate à pobreza. A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) decidiu prestar tributo ao papel crítico desempenhado pela mídia na promoção da democracia e da boa governança escolhendo "Mídia e Boa Governança" como o tema-chave da celebração deste ano. Por meio da Declaração do Milênio, os Estados-Membros das Nações Unidas expressaram forte, unânime e explícito apoio à governança democrática e participativa e reconheceram a mídia livre e aberta como uma das ferramentas necessárias para realização desse objetivo. A Declaração do Milênio afirma que os Estados-Membros "não economizarão esforços na promoção da democracia e no fortalecimento do Estado de Direito", e resolve "fortalecer a capacidade de todos os países em implementar os princípios e práticas da democracia e do respeito pelos direitos humanos". A boa governança pode ser impedida pelo flagelo da corrupção, que interrompe o livre fluxo da informação, mina a prestação de contas sobre decisões e desencoraja maior participação no processo decisório. O jornalismo preciso e profissional é freqüentemente o único recurso de que a sociedade dispõe para combater a corrupção. Jornalistas precisam do apoio de toda a sociedade para eliminar os obstáculos ao jornalismo preciso. Ademais, promessas de aumentar a transparência e a prestação de contas da administração pública precisam ser sustentadas por leis que garantam acesso pleno às áreas de informação no interesse público. O provimento de infra-estrutura jurídica operante encoraja o florescimento da mídia independente e plural e é uma das condições para a boa governança. Portanto, assegurar o direito à liberdade de imprensa em todo o mundo deve ser considerado uma prioridade. Infelizmente, diversas vezes, falta aos jornalistas a independência necessária para expor casos de corrupção ou de abuso de poder, denunciar violações de direitos humanos e facilitar um diálogo aberto entre Estado e sociedade. Medidas governamentais para controlar a mídia, direta ou indiretamente, têm muitas motivações, mas, em última instância, um resultado comum, qual seja, a erosão da democracia como prática ou aspiração. Jornalistas podem ter sua integridade física ameaçada no exercício da profissão. Alguns se tornam vítimas da violência por trazer à luz o que algumas pessoas querem manter escondido; outros correm risco por trabalhar em zonas de conflito armado. Um desenvolvimento recente e inquietante é a abdução de jornalistas a serem mantidos como reféns - trata-se de um ataque à liberdade de expressão e de imprensa. Jornalistas e pessoal de mídia merecem condições razoáveis de segurança onde quer que estejam trabalhando pelo mundo. De acordo com organizações profissionais, 2004 e o início de 2005 foram o pior período em uma década em termos de jornalistas mortos, com mais de 70 jornalistas e profissionais de mídia tendo perdido suas vidas. Outras centenas recebem ameaças de morte, muitos são intimidados e alguns são mantidos como reféns ou torturados por exercerem sua profissão. Estes atos são condenáveis não apenas porque violam os direitos humanos de indivíduos, mas também porque envenenam a fonte da boa governança e da democracia que representa o fluxo de informação precisa e confiável. Assim, a liberdade de imprensa não deve ser vista apenas como a liberdade de jornalistas em relatar e comentar. Na verdade, está fortemente correlacionada com o direito de acesso do público ao conhecimento e à informação. Dado o papel crucial da mídia na disseminação do conhecimento e da informação, é vital que os veículos de comunicação e as associações profissionais encorajem o jornalismo preciso, profissional e ético. Isso pode ser feito estabelecendo códigos voluntários de conduta, oferecendo treinamento para jornalistas e criando mecanismos de auto-regulação. Ao celebrarmos o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, lembremo-nos de que a mídia livre e plural provê uma fundação sólida para a boa governança, o desenvolvimento e a paz. Um compromisso com a eliminação de todos os obstáculos à liberdade de imprensa e a melhoria de condições para um jornalismo independente e profissional são, portanto, essenciais, e encorajamos tanto Estados-Membros como profissionais de mídia a aumentarem seus esforços nesse sentido. Prestamos homenagem aos jornalistas que colocaram sua vida ou liberdade em risco de modo a oferecer ao público uma informação precisa e independente. Seu profissionalismo e coragem constituem uma contribuição inestimável para a defesa dos direitos e liberdades básicos de todos. Nota do Editor: Koichiro Matsuura é Diretor-Geral da Unesco.
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