Os dois locais onde se ouvia mais mentiras em Pesqueira era na Praça Dom José Lopes e numa barbearia. Nessa última saíam as melhores e mais cabeludas. Sempre gostei de ouvir mentiras daqueles mentirosos clássicos que mentem com arte e talento. Duas mentiras sempre me encantaram, as sobre caçadas e as sobre disco voador. Um mentiroso arretado contou certa feita, enquanto fazia meu cabelo, era o barbeiro, que numa caçada no alto da serra se deparou com uma onça malhada, foi aquele fuzuê, enfrentou a bicha com coragem e no final deu empate. Resultado ficou amigo da onça, e sempre ia à toca dela, levava presentes, mel, carne, biscoito e ela sempre retribuía com bichos mortos e retalhados. Virou sua comadre a onça, só não falou em namoro. Outro, um cliente do barbeiro que só vinha uma vez por mês, no dia da feira, às quartas-feiras, era funcionário público e gostava muito de ler, mas era mentiroso que só cachorro de fateira, quando mentia chegava a babar de gozo, como se estivesse comendo goiabada cascão. Esse contou certa vez que tinha sido, pasmem, abduzido por extraterrestres que teriam chegado num lugar ermo da cidade num disco voador parecido com um prato. Levaram-no e ele passou vários anos num certo planeta que se chamava Kakataum. Foi tratado a pão de ló, as mulheres de lá é quem mandavam, e eram lindas. Mas que depois de usufruir de vida mansa ficou com saudade, pasmem outra vez, dos relógios da praça (há dois relógios nas torres da igreja parados há mais de 40 anos) e resolveu voltar, de sacanagem perguntei se voltou no mesmo disco em forma de prato, ele não se alterou, disse que não, tinha vindo num disco pequeno em forma de pires, o táxi de Kalataum. Pero, hermanos, falando sério, estou escrevendo esta mal traçada provocado por Mamma que falou no livro de um mintômano chamado Eric Von Daniken, que sustentou que os deuses poderiam ser astronautas. Vejam bem, não sei se é verdade ou não, acho que é mentira. Mas que existem os discos voadores existem porque o cara que respeito mais, um sobrinho meu, seríssimo, incapaz de uma mentira, afirmou que viu certa feita um charuto nos céus de Arcoverde, um charuto voador, ainda, brincando, perguntei se o charuto era de fumo de Arapiraca ou um Cohiba de Cuba, ele se zangou e quase se intriga comigo. Várias pessoas sérias de Arcoverde também viram. Não sei se tratou de um objeto lançado pela aeronáutica, mas o charuto voador fez cabriolas nos céus de Arcoverde. Juro.
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