Calma, camaradas, não tem nada a ver com a Lava Jato. Nem se trata de pegadinha. É apenas um causo acontecido numa cidade do sertão nos anos 60. Havia na época uma moça muito bonita, bem feita de corpo, sensual, um verdadeiro pecado ambulante. Era muito “avoada”, sempre tirando uma linha com rapazes de fora e com os “viajantes” (eram os dons juans do interior). Mas noves fora essa fraqueza pelos forasteiros, o fato é que namorou com Lelê, um cara sério, mecânico de mão cheia, responsável e com um sentimento muito forte de honra e dignidade. Um cara correto. Bem, depois de um certo tempo de namoro, Lelê resolveu noivar com Nanoca (este seu apelido de guerra), comprou as alianças e estava prestes a pedir solenemente a mão (e tudo o mais) da amada. Só que na sua turma de amigos havia um traíra, invejoso, um sujeito que era doido por Nanoca e ela não lhe dava a menor bola. Esse cara era tão chato e repulsivo que botaram nele o apelido de Meleca, era auxiliar de escrita num escritório de contabilidade, mas tirava onda de economista. Meleca fazia de tudo para chegar junto de Nanoca. E destino e vocação de volúvel de Nanoca lhe deram essa chance de praticar uma canalhice e se cacifar para ficar com Nanoca. Antes do noivado, houve uma Exposição de Animais e Produtos Derivados na cidade, foi o grande acontecimento do ano, além da exposição propriamente dita havia shows à noite. Vieram muitos “viajantes”. E um deles deu em cima de Nanoca e ela dele, mas escondido, em segredo, na moita. Só que Meleca descobriu, seguia a moça, um vício triste. Então viu-a sair numa noite se desguiando e ir para trás dos currais, encontrou-se com o viajante e em pé mesmo pintaram o sete. Meleca esfregou as mãos contente, sabia que iriam repetir na próxima noite. Fez então a deleção canalha. Mas sem dizer o nome da santa, apenas insinuou na roda de amigos em que se encontrava o pobre do Lelê, que uma dona comprometida da cidade estava trepando em pé atrás dos currais na Exposição, que isso acontecia mais ou menos as nove e meia da noite. Ora, a turma curiosa resolveu seguir Meleca para ver in loco se era verdade e saber quem era a dona. Foram, o coitado do Lelê nem queria ir, mas Meleca o arrastou quase a pulso. Ficaram na tocaia atrás da parede que dava para os currais, viram chegar primeiro o don juan viajante e depois a dona, foram mais para perto e então viram a quase noiva de Lelê naquela base. O mecânico caiu no choro. A notícia se espalhou por toda a cidade. Lelê foi ao pai de Nanoca e narrou o acontecido, desmanchou o namoro e, pasmem, foi embora para São Paulo. Nanoca virou moça falada e repudiada por todos. Justamente o que queria Meleca. Primeiro intrigou-se com toda a turma, depois se aproximou de Nanoca e, devido a ela não ter mais nenhuma opção. Resolveu se casar com ele. Casaram. Mas a delação foi premiada com chifres. Nanoca botou tanto chifre em Meleca que ele ficou meio torto, diziam que se passasse por baixo de uma fiação os chifres levavam choque. Hoje, soube por amigos, que ela é uma respeitável vovó e que, finalmente, sossegou a periquita. E Meleca endoideceu, não diz coisa com coisa. Não foi feliz.
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