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Opinião
14/07/2015 - 11h01
O prazer está na moda, falar de ódio também
Montserrat Martins
 

O FaceGlória, rede evangélica que não permite fotos de beijos gays, liberou as fotos de biquini. Mário Quintana já disse que “quando dês opinião, não esqueças de anotar a data”, pra você ver como as suas opiniões mudam com o tempo. Tempos atrás seriam impensáveis as fotos de biquini também, assim como não se imaginava que um negro conseguisse se eleger presidente dos Estados Unidos e tendo agora uma mulher indicada para a sua sucessão. O tempo vem derrubando preconceitos e mitos.

‘Matar’ índios era chique nos anos 50, em qualquer filme de faroeste você vê a famosa cena do toque da Cavalaria chegando para te salvar dos selvagens. Lá pelos anos 70 é que começou a mudar a ideologia de Hollywood e os índios viraram vítimas de brancos inescrupulosos que roubavam suas terras e riquezas. Não precisamos ver milênios de história, olhando só os últimos séculos já vemos formas de pensar que eram consideradas normais e hoje nos horrorizam, do genocídio e escravidão ao colonialismo, passando por vários totalitarismos também.

Agora está na moda o papo do “ódio”, como se fosse uma novidade, como se não fosse a história da própria humanidade. Há campanhas “contra o ódio na internet” que podem gerar até mais ódio, por não compreenderem bem do que estão falando. Sim, o ódio traz o perigo da violência e sua simples expressão já é uma forma de violência psicológica também. Mas como lidar com ele, se não entendermos as suas raízes, os seus significados e até os seus tipos? Porque cada um de nós, no seu íntimo, justifica algumas reações como naturais ou compreensíveis ao menos. Cada um de nós odeia algo, alguém, com a mesma força que ama algo e alguém também.

Uma das mais belas descrições de Machado de Assis, no seu clássico conto “Missa do Galo”, é a de uma personagem benévola, recatada, neutra e comedida em seus pontos de vista. Machado observa que “Conceição não sabia odiar, é possível até que não soubesse amar”. Esse conto é uma aula de Psicologia, pois tudo se passa no mundo interior do protagonista e à mercê de suas fantasias. Em Psiquiatria, aprendemos que o ódio não é o oposto do amor, o oposto do amor é a indiferença.

Nos ódios que rolam nas redes sociais, de conflitos de valores e ideológicos, há alguns motivadores que precisam ser reconhecidos. O ódio às injustiças é uma motivação que faz avançar a história da humanidade. Mas o ódio à hipocrisia também, porque às vezes sob o discurso “politicamente correto” se escondem uma série de contradições, incongruências, que irritam aqueles aos quais o discurso se destina.

Os rótulos empobrecem os debates, quando se classificam falas de ‘esquerda’ ou de ‘direita’, deixando de ouvir os conteúdos específicos sobre os quais estão falando, é algo que faz tanto sentido quanto chamar o Obama de “comunista” por seu plano de saúde pública, como ele tem ouvido da oposição mais radical no seu país. Outro problema dos discursos, textos e artigos “contra o ódio na internet” é que são postados por quem está envolvido até a medula nas guerras ideológicas, nas quais o pensamento dos outros é classificado como odioso e o seu, defensor da democracia, como já dizia Millôr: “Ditadura é você mandar em mim, democracia é eu mandar em você”.


Nota do Editor: Montserrat Martins, colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)

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