Além da falta de apoio popular, da crise econômica e dos problemas de ordem política que podem até levar à concretização do impeachment, o governo tem, a partir de agora, mas uma incômoda pedra em seu caminho. O funcionalismo, que já parou em vários setores – INSS, Fiocruz, universidades e outros – ameaça decretar a greve geral. Esta semana, sindicatos e centrais que representam mais de 500 mil trabalhadores forçam o governo a conceder-lhes aumentos da ordem de 27% a título de repor perdas inflacionárias dos últimos anos. No final do mês passado, o Congresso Nacional aprovou reajuste para o Judiciário, que vai de 53% a 78,5%. A matéria recebeu veto do Executivo, que concorda com o máximo de 21%. Agora são os funcionários do próprio Executivo que buscam o reajuste e, durante os dias desta semana, deverão optar (ou não) pela greve geral. Constitucionalmente definida como direito do trabalhador, a greve tem sido um instrumento utilizado além das relações do trabalho. Não devemos ignorar que o próprio Partido dos Trabalhadores surgiu das greves, quando fazer greve era proibido, e durante sua atuação na oposição, apoiou indefinidamente as paralisações. Depois que assumiu o poder, em 2003, não teve discurso para desencorajar o grevismo, tendo de fazer vistas grossas aos excessos. Agora, quando amarga a impopularidade e corre riscos concretos de perder o poder, o partido pode ser vítima da própria criação. A história está cheia de exemplos onde o criador perece por ação da criatura... Faz mal ao país um quadro como o que hoje vivemos, com os membros Executivo sob ameaça, os do Legislativo (e até do Judiciário) acusados de cometer irregularidades. Essa instabilidade afugenta os investidores e traz o caos à nossa economia. Além de estarem sensivelmente reduzidos os investimentos governamentais e as grandes obras de infraestrutura, o setor privado vai parando e o mercado se desaquecendo, num claro sintoma de recessão onde desemprego, fome e insegurança são atores importantes. A decretação de uma “greve geral”, mesmo que seja apenas no funcionalismo público federal, seria componente explosivo dentro do quadro de instabilidade vivido pelo país. É de se aguardar que governo, sindicatos, centrais e todos os que puderem ter ação ou mediação nessa questão, dêem o máximo dos seus esforços para evitar o impasse. O Brasil de hoje não agüenta mais esse problema... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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