Em 1959, numa noite de 11 de novembro, à Avenida Ipiranga, o primeiro prêmio Jabuti – criado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) – foi entregue a até hoje queridos e muito respeitados intelectuais brasileiros: Jorge Amado, Isa Silveira Leal, Renato Sêneca Fleury, Jorge Medauar, Ademir Martins, Carlos Bastos, Mário da Silva Brito, Sergio Milliet e a Saraiva. A lista desses premiados sugere o olhar arguto – voltado para o futuro – com que o júri observa o panorama dos livros brasileiros. Olhar informado e esperto, capaz de identificar o novo. E que novidades teriam sido as que o Jabuti de 1959 consagrou? Muitas: Gabriela, cravo e canela marca uma nova e festejada vertente da literatura de Jorge Amado. Livros para crianças e jovens – representados pelos prêmios a Isa Silveira Leal e Renato Sêneca Fleury – apontam para um gênero que de lá para cá só tem amadurecido, além de trazer para o Brasil prêmios internacionais. E o Prêmio à Saraiva, marca a fina e precoce percepção das novas condições – que neste século XXI continuam a surpreender – de produção e circulação de livros. Naquele ano, poucas categorias eram contempladas pelo prêmio que nascia. Pouco mais do que meia dúzia: personalidade do ano, ensaios, história literária, ilustração, literatura infantil, literatura juvenil e romance. Já no ano seguinte, capa e poesia ampliaram o arco. Hoje, quase trinta categorias disputam o Jabuti. É assim, num clima otimista de fidelidade a suas raízes inovadoras, que a CBL (Câmara Brasileira do Livro), no lançamento da 57ª edição do Prêmio Jabuti, anuncia duas novas categorias: adaptação e livros infantis digitais. Discutir categorias é sempre interessante, mas muitas vezes algo temperado de mau humor... Quadrinhos são um bom exemplo disso: vilões nos anos cinquenta, acusados de comprometer a imaginação e até a inteligência de leitores, seus artistas souberam lutar e deram a volta por cima! E o Jabuti 2015 alegra-se em incluir, dentre suas categorias, os descendentes de Angelo Agostini (1843-1910) que, nos idos do século XIX, introduziu os quadrinhos na terra de Machado de Assis! Na mesma esteira do mau humor, o fruto de tecnologias envolvidas com a produção cultural, no começo, assusta. A partir, por exemplo, das alterações que Gutenberg operou na relação entre leitores e livros no século XV, professores de uma universidade europeia reclamaram que, se qualquer aluno podia ter livros (porque eram mais baratos), o que fariam os professores? Nas últimas décadas, o mundo da Comunicação – no qual se aninham as Letras – foi sacudido pela tecnologia digital. Os vilões de hoje são internet e games... E justamente para contribuir para a tão necessária discussão das linguagens contemporâneas e das leituras que elas instigam, o Prêmio Jabuti 2015 inclui livros digitais infantis. Com alegria e seriedade, o Jabuti encara o desafio de emprestar seu prestígio a um objeto que – desde a denominação de sua identidade – provoca apaixonadas discussões: ebooks? aplicativos? livros digitais? @books? Com essas duas novidades, a CBL tem certeza de que – ao acolher gêneros de ampla circulação de nossos dias – sela fidelidade a suas origens e embarca, junto com os leitores, na fantástica aventura de mergulhar em diferentes linguagens que falam dos sonhos humanos, velhos e novos. Que falem os leitores, em nome dos quais existem livros e literatura! Nota do Editor: Marisa Lajolo, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Unicamp, é curadora do Prêmio Jabuti.
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