05/08/2025  08h35
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
08/08/2015 - 12h04
A crise hídrica perfeita
Roberto Malvezzi (Gogó)
 

São cinco fatores fundamentais que geram a atual crise hídrica brasileira.

O primeiro, alertado por vários cientistas, é a possível ruptura no ciclo de nossas águas. Em resumo, grande parte delas tem origem na evapotranspiração da floresta amazônica, sendo carreada para o sul, centro-oeste e sudeste pelos rios voadores. Com a derrubada da floresta amazônica os rios voadores estão perdendo força.

Completa essa ruptura o desmatamento do Cerrado, que tem como consequência sua impermeabilização. O Cerrado não está na origem do ciclo de nossas águas, mas tem o papel fundamental de armazená-las em tempos de chuva e depois liberá-las para nossas bacias hidrográficas em tempos de estiagem. É o que os técnicos chamam de vazão de base. Ela garantia a perenidade de nossos rios, a exemplo do São Francisco. Hoje porém, com menos absorção, não garante mais.

O segundo fator é a escassez qualitativa. Destruídos, poluídos, muitas vezes os mananciais estão ao lado de nossas casas, cortando nossas cidades, mas impróprios para o consumo humano e doméstico. O exemplo mais clássico são as águas do Tietê do Pinheiros em São Paulo. Mas podemos estender essa lógica a todos os rios que atravessam centros urbanos, desde os pequenos até os grandes.

O terceiro fator é a expansão do uso da água para fins econômicos, particularmente a agricultura irrigada. Hoje temos 6 milhões de hectares irrigados e eles são responsáveis por 72% da água doce consumida no Brasil. Entretanto, estudiosos dizem que temos potencial para mais 29 milhões de hectares – outros falam em 60 milhões –, sobretudo no território do agronegócio chamado de MATOPIBA, iniciais de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

O quarto fator é o hidronegócio. A mercantilização da água despertou cobiça no mundo inteiro em seus múltiplos usos, particularmente dos serviços de abastecimento urbano e na água envazada. Quando um bem essencial à vida como a água é apropriado privadamente e mercantilizado, passa a ser gerido pelas regras absolutistas do mercado. A consequência é o preço exorbitante da água para populações mais pobres e o lucro soberbo das empresas que adquirem esses serviços. O que aconteceu em Itu e nas periferias da grande São Paulo ilustram esse fator de forma cabal.

Finalmente, o descuido. Não temos nenhuma política de educação, ética do cuidado com nossos mananciais ou a utilização de nossas águas. Mesmo quando a questão é abordada, simplesmente prefere-se transferir o problema para os consumidores domésticos, exatamente a parte menos influente na crise.

A ruptura do ciclo das águas + escassez qualitativa + expansão da demanda + hidronegócio – cuidado. Eis a equação da crise perfeita e perversa.


Nota do Editor: Roberto Malvezzi (Gogó), articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.