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Só fiz o curso ginasial. E nas coxas, na marra. E ainda fui o lanterninha numa turma de 47 alunos. Pensem num malandro. Detalhe: era repetente da quarta série do ginásio. É o único diploma que possuo. Juro. Depois dessa façanha, já em Pesqueira, tentei o curso de Contabilidade, mas depois de alguns meses não aguentei a chatice de alguns professores que talvez soubessem menos que eu em algumas matérias. Mas havia um professor, o de Português, Antonio Farias, que era um dos gerentes da Ford na cidade, que era o cão chupando manga na matéria que ensinava. E não tinha frescura daqueles trechos enormes de Camões e nem aquelas análises horrorosas, aqueles períodos compostos, aquela gramatiquice que não serve para nada. O professor Farias tinha conhecimento do português erudito, era muito culto, mas ensinava o português prático, aquilo que ia servir aos seus alunos em concursos e na vida em geral. Ele gostava de dar exemplos quando ensinava. Exemplos práticos. Vou contar um: havia um aluno que era muito bronco mesmo e fazia uma confusão danada no emprego das palavras sobre e sob. Cansado de tanto explicar a ele o uso das duas palavras, um dia o professor subiu no birô e disse: – Estou sobre o birô. Desceu e foi para baixo do birô e gritou: – Estou sob o birô. Não sei se o bronco aprendeu, mas nunca me esqueci dessa aula. Eu me dava muito bem com ele, talvez porque conversássemos muito no banco onde eu trabalhava e ele ia resolver problemas da Ford. O professor gostava das cartas que eu enviava à redação do JC reclamando de tudo. Mas achava que eu não entendia nada de pontuação, e então me deu uma sugestão que guardo até hoje: – Use sempre o ponto, os leitores entendem melhor com muito ponto, encurte as frases. Na dúvida use o ponto. E priu. Por isso até hoje boto ponto adoidado. Não esqueço o conselho do mestre, bobeou, me perdi, boto um ponto. Que saudade do professor Farias. Um mestre e um amigo.
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