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Crônicas
22/08/2015 - 15h24
Instinto e razão
Pedro J. Bondaczuk
 

O homem é uma soma de instinto – que o caracteriza como animal – e razão, que o distingue das demais criaturas, faz com que prepondere sobre elas e se assenhore do Planeta. Ao contrário do que alguns apregoam, ambos lhe são indispensáveis e vitais. Há reações instintivas das quais não podemos prescindir, como as destinadas à preservação da nossa vida (medo, fome, sede etc.), a que objetiva a perpetuação da espécie e outras tantas que são desnecessárias de citar. São automáticas. Funcionam sem que precisem ser acionadas.

O que se requer é equilíbrio, harmonia, ordem entre os dois fatores. E a racionalidade deve preponderar sobre instintos que se tenham tornado dispensáveis e que precisem ser dominados. Quanto maior for a capacidade do indivíduo de dominá-los, mais racional, e por conseqüência civilizado, ele será.

E. L. Thorndike, em seu livro “A Natureza Original do Homem”, afirma: “Por instinto nós tememos, não os transmissores da malária ou febre amarela, mas o trovão e o escuro; não lamentamos os homens bem dotados que não recebem educação, mas a chaga saniosa do mendigo; uma grande injustiça nos impressiona menos que um pouco de sangue; sofremos mais com o olhar de desprezo dum garçom que não recebe gorjeta do que com a nossa própria indolência, ignorância ou loucura”. Estes são apenas alguns exemplos do quanto a razão se faz necessária, para que tenhamos discernimento para julgar e agir em cada situação.

O filósofo norte-americano Will Durant reflete: “O instinto talvez nos tenha bastado no primitivo estágio de caçadores; é por isso que nossos impulsos naturais nos levam mais à caça do que ao trabalho da terra, e periodicamente sonhamos com o 'retorno à natureza'. Mas desde que a civilização começou, o instinto se faz inadequado e a vida teve que pedir socorro à razão”.

Não fosse a racionalidade, e o homem talvez já houvesse desaparecido do Planeta. Em termos de força física, é muito inferior a inúmeras espécies de animais, os quais domina pela sua inteligência, que o leva a fabricar armas que o tornam poderoso e com as quais as supera. Além disso, criou leis e códigos morais que impedem que os mais fortes do próprio gênero humano escravizem, dominem ou eliminem seus semelhantes mais fracos.

Para chegar a esse estágio, gerações e mais gerações juntaram experiências e deram sua contribuição ao direito e à ética. A atividade humana, em que mais entram em conflito o instinto e a razão, é a religião. Instintivamente, por medo, recorremos sempre a um ser superior, de grande poder, que nos proteja de fenômenos que não compreendemos e que nos “ameaçam”. O desconhecido sempre atemoriza. Nas religiões mais primitivas, as divindades (são múltiplas) são iracundas, eróticas, vingativas, com as piores características humanas e que se impõem pela força e pelo castigo.

Só indivíduos com a racionalidade desenvolvida entendem que essa sabedoria universal, que criou e rege com leis simples e imutáveis galáxias, estrelas, planetas e tudo o que há (vivente ou não); que fez a matéria e a energia e que mantém tudo funcionando com a precisão de um relógio, é construtiva, positiva, paternal e protetora. É amor e não rancor. É razão e não instinto. Não exige de nós sacrifícios ou pavores.

Albert Einstein, em um de seus livros, observou: “Quanto mais avança a evolução espiritual da humanidade, tanto mais certo me parece que o caminho para a religiosidade genuína não passa pelo medo da vida, nem pelo medo da morte, nem pela fé cega, mas pelo esforço por atingir o conhecimento racional. Neste sentido, creio que o sacerdote tem que se tornar professor, se deseja fazer jus à sua sublime missão educativa”. O que não se pode é explorar as angústias e a falta de luz de mentes simples para manipular essa gente primitiva.

Quanto mais racionalidade houver na crença religiosa – desprovida de lendas, ídolos e ritos – mais próximos estaremos do Deus verdadeiro, fonte de onde emana a sabedoria, a ciência e a vida, do qual somos a imagem e semelhança. A razão tem avanços e retrocessos, dependendo de como cada geração é educada pela que a precedeu. Alois Gita observa: “Há um processo vital no universo, no mundo, no planeta, nos continentes, nas culturas, nos povos, nas tribos humanas, que se movimenta e enfraquece, que ganha força e atinge seu máximo, para declinar e renascer uma vez mais, infinitamente”. A racionalidade também tem esses ciclos. Mas é preciso que nunca decline a ponto de ser ofuscada pelos instintos. Seria o fim desta ainda precária civilização...


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

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