(CXXI) Pai é aquele que dá a vida pelas suas crias; que muitas vezes sacrifica seus planos para auxiliar seus rebentos na realização dos deles. Ser pai é não perder a esperança nos filhos, principalmente quando eles apenas o brindam com uma longuíssima série de decepções. Ser pai é esforçar-se, desafiar os limites do possível, para procurar sempre ser um exemplo de virtude e dignidade para os seus meninos; mesmo que eles estejam com seus olhos voltados para outras coisas que não são dignas, nem virtuosas. Enfim, ser pai, no sentido literal que a palavra evoca, é ser como essa joia rara, que é seu Esmeraldo Zanela, o meu Pai e minha inspiração. (CXXII) Quando uma pessoa vibra com a censura cretina de um escritor ou com a possibilidade de algo do gênero ocorrer com um órgão de imprensa que destoa da pasmaceira chama branca, não é que ela seja tola. Não. Ela é criticamente idiota e eticamente estúpida. Só isso. (CXXIII) Daí a César o que é dele e aos petralhas todas as mandiocas que eles quiserem. (CXXIV) Quem diz não ver a crise, bom sujeito não é. Ou é ideologicamente lesado da cabeça, ou está envolvido no esquema da cabeça aos pés. (CXXV) Todo mundo tem lá sua cota de idiotice para usar como bem desejar. O problema é que os militontos, os notórios e os que o são por adesão sonsa, abusam pra caramba desse goró. Eles se esquecem que a idiotia deve, necessariamente, ser consumida com muita moderação. Enfim, se eles são um porre, não é à toa. (CXXVI) Quem tem grana, muita ou pouca, e algum caráter, está escandalizado com a crise. Já aqueles que têm algum cascalho, não precisa ser muito, e nenhuma dignidade, fazem pouco caso do quadro atual, tristemente ilustrado com panelas cheias de insatisfação e justa revolta. (CXXVII) O poder tem o seu charme, dizem alguns. E, tal dito, tem lá a sua razão de ser. Por isso mesmo, o seu abuso é pura e simples cafonice de gente medíocre no caráter e tartufo de coração. (CXXVIII) O poder é tal qual um estojo de maquiagem. Nas mãos de quem sabe usá-lo, ele apenas realça as qualidades inatas da figura. Porém, se cair nas mãos dum cafona inveterado; bem, todos sabem que ele irá apenas realçar a inata falta de predicados da pessoa. Todos sabem disso, menos a persona que está toda rebocada de rouge e baton. (CXXIX) Quem não procura ver a realidade com os olhos da cara, cedo ou tarde acaba sentindo-a, com toda sua rudeza, no olho escuro que não ilumina a face. (CXXX) É verdade que tudo na vida tem o seu lado bom, porém, isso não quer dizer que ele não será amargo. (CXXXI) Toda sociedade civil fragmentada e desorientada tende a ser governada por uma casta solidamente organizada. (CXXXII) Quando a sociedade civil não se organiza para defender-se daqueles que querem usurpá-la, ela acaba sendo saqueada por grupos que dizem ser os seus “legítimos” representantes; grupos que, no fundo, são os mesmos que a estão espoliando. (CXXXIII) Caminhar por esse vale de lágrimas sem um propósito maior do que comer, beber, dormir e gozar é reduzir-se, graciosamente, a condição dum bípede canino, turvo no passo e infiel no agir. (CXXXIV) Por mais esquisito que possa parecer, quem ganha à vida honestamente acaba sendo invejado justamente por pessoas que não nutrem a menor estima pela tal honestidade. (CXXXV) Uma carranca sincera vale muitíssimo mais que um dissimulado sorriso amarelo. (CXXXVI) Da mesma forma que devemos distinguir o elogio sincero da bajulação afetada, devemos também discernir a crítica franca da aleivosa acusação parida pela inveja que floresce nos corações das almas sebosas. (CXXXVII) Amigo não é companheiro de gole; é o ombro que está ao nosso lado quando não há gole que console, nem companheiros que distraia-nos com banalidades.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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