Quando vejo e ouço algumas pessoas muito preocupadas com a religião e seus rituais, mas sem ligar de jeito nenhum para o social (como faz o papa), eu fico pensando com os meus caros botões: – para que serve os rituais? Vou além: participar desses rituais ou mesmo ser religioso praticante e excitado é fundamental para a salvação do ser humano, caso acreditemos que exista mesmo outro plano de vida? Acho que não, e logo me lembro da teoria de um amigo de Arcoverde, um cara caladão e moderadíssimo, mas um sujeito que acha que o homem (e a mulher, claro) não precisa de ritual nenhum e nem sequer de religião para alcançar a tal salvação. Vai além: nem precisa ler a Bíblia e nem saber nadinha dos santos e apóstolos. E aí cita a sua teoria, um índio que criou na imaginação: Picacuru.

Segundo ele fantasia, Picacuru nasceu, viveu e morreu na selva amazônica sem ter tido nenhum contato com a “civilização”. Pescou, caçou, comeu as índias, brigou, dançou o Quarup, levou uma vida de índio, alegre, satisfeito e de acordo com a sua natureza. Pergunta: – Piracuru por não ter sido evangelizado, batizado, crismado e não ter frequentado os rituais e nem ter tomado conhecimento do Cristianismo vai deixar, caso seja verdade, de merecer a salvação divina? Responde: – Se merece não é preciso religião e nem rituais para ir pro céu, para o outro plano de vida.

Vem a segunda parte da teoria dele, ele coloca Picacuru nos tempos da invasão dos brancos, os invasores de bacamarte e espadas matando os índios abençoados por jesuítas de cruz nas mãos e contaminando os índios de gripe e alienação. Picacuru reage mata invasores e seus colaboradores jesuítas e é morto. Então ele pergunta: Quem merece o perdão e a graça de Deus, Picacuru ou os invasores bárbaros?

Confesso que não sei, mas tenho muita simpatia por Picacuru. Esse cara de Arcoverde é um provocador. Mas é um cara arretado, não abre mão de suas idéias. E deixa a gente em dúvida.