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Crônicas
13/05/2005 - 13h02
Morte aos economistas!
Lula Miranda - Agência Carta Maior
 

Das planilhas de cálculo dos economistas não escorre seiva, não escorre sangue (a não ser que pensemos em termos metafóricos). Ali, não pulsa a vida. Apenas números frios, percentuais e estatísticas em seu gélido pragmatismo. Olhando para os hoje tão propalados "ajustes" e "superávites" fiscais não se percebe a fome, a exclusão. Não se vê a dor e a tristeza estampadas na face dos idosos nas quilométricas filas do SUS ou do INSS, madrugadas frias adentro. As planilhas dos economistas e seus ajustes fiscais nada revelam além de um economicismo perverso e criminoso escamoteado por um discurso que sugere uma pretensa racionalidade no uso do dinheiro público. Puro engodo e tergiversação. Morte aos economistas.

As planilhas dos economistas não revelam as preciosas vidas perdidas na guerra pérfida e inútil de todos os dias (aliás, todas as guerras devem ser consideradas inúteis e pérfidas). Ali, nas planilhas dos tecnocratas, o futuro e a esperança são negados aos jovens. Elas, na sua letra fria, não revelam a calamidade na educação ou na saúde. Não revelam os corpos esquálidos, o sorriso amarelo, que é quase um não-sorriso, e os olhares sem vida das crianças indígenas e dos filhos dos lavradores do semi-árido que morrem de inanição. Morte aos economistas.

As planilhas dos economistas não revelam o déficit habitacional, os sem-teto que se espojam maltrapilhos, famélicos e sujos pelas sarjetas. Os moradores de Alagados na Bahia, da Brasília Teimosa no Recife ou do Buraco Quente em São Paulo - ou de qualquer outra entre tantas favelas - tampouco são contemplados pelo "glamour" cínico dos tecnocratas e sua econometria de resultados ou pelo rentismo dessa globalitária "financeirização" tão em voga. Ou muito menos o apartheid na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, onde estão devidamente apartados os que morrem no morro e os que vivem no asfalto. Não revelam o pavor de todo o dia nas grandes, ou até mesmo pequenas cidades: a insegurança, o medo do próximo, o medo da violência. Morte aos economistas.

As planilhas dos economistas e seus superávites fiscais nos negam o sonho, o pão, a poesia de cada dia. Nos negam a cidadania. Nos negam o inalienável direito de construirmos uma nação. Nos negam a soberania. Morte aos economistas.

A "sensatez" bem calculada dos economistas não apazigua o olhar de desalento do pai e/ou mãe de família desempregado(s). Os economistas nada enxergam para além de "resultados" - mas aí, esclareça-se, esse "resultado" não tem nada a ver com o resultado de fato (ou, em outras palavras, no que resultam as suas medidas na vida real), é apenas o registro escritural de resultados contábeis, projeções orçamentárias e de custos. Morte aos economistas.

É bastante revelador que nenhum parlamentar tenha ainda sugerido a criação de uma Lei de Responsabilidade Social, que seria uma espécie de lei magna, soberana e que se sobreporia às demais leis, inclusive, e principalmente, à Lei de Responsabilidade Fiscal - como a Constituição se sobrepõe às demais leis ordinárias. A nenhum gestor seria permitido deixar faltar merenda escolar e um ensino público de qualidade às crianças e jovens em idade escolar. A nenhum gestor seria permitido deixar de oferecer um serviço de saúde de qualidade aos habitantes do seu Estado, município ou país. A nenhum gestor seria permitido criar "campos de extermínio" como as Febem superlotadas ou deixar crianças perambulando sujas e maltrapilhas pelas ruas das cidades, ou mesmo deixar idosos e desvalidos vivendo na sarjeta. Mas nenhum parlamentar ou economista sugeriu a criação de uma Lei de Responsabilidade Social. Morte aos economistas.

Esses verdadeiros cientistas da ignomínia que transformaram esse país, que poderia ser uma grande nação, num imenso laboratório de perversidades e a nós todos em suas cobaias - verdadeiros cordeiros na imolação cotidiana. Morte aos economistas.

Sejam os economistas a serviço do médico Palocci ou aqueles a serviço dessa abominável "nova" leva de políticos que estão na moda, os chamados "gerentes" ou "super-gerentes" (mas quem dita a moda mesmo?). Hoje, os mais incensados (pela mídia grande, é claro) representantes dessa categoria são Geraldo Alckmin (SP) e Aécio Neves (MG), que afirmam ter feito um tal de "choque de gestão" - mais uma falácia, mera grandiloqüência retórica e empulhação para legitimar, e até mesmo legalizar, toda uma sonegação aos direitos mais básicos do cidadão. Em outras palavras, para justificar o desmonte do Estado, o salário miserável dos professores, a saúde precária e a falta de reajuste para os servidores de um modo geral. Quem vive em São Paulo ou Minas Gerais sabe a verdadeira calamidade e incompetência administrativa que são a mais perfeita (e verdadeira) tradução dessas gestões. Morte aos economistas e seus "super-gerentes".

Claro, e aí conto com a cúmplice generosidade e benevolência dos leitores, que estão isentos dessa minha sentença capital o meu colega Paulo Nogueira Batista Jr., o Beluzzo, a Maria da Conceição Tavares, o Eduardo Carneiro e alguns outros poucos economistas que sabem haver vida para muito além dos números. Para estes, a gente dá um salvo-conduto. Afinal, um ou outro economista a gente ainda tolera. Até mesmo porque vamos precisar de alguns deles para edificar a nossa utopia. Ou não? Morte aos economistas.

Nota do Editor: Uma informação acessória, a título de curiosidade: Lula Miranda é graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Católica do Salvador - UCSal.

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