A Grécia acaba de receber seu terceiro grande pacote de ajuda financeira: um valor de 86 bilhões de euros. Suas condições, política e econômica, são muito mais delicadas que a do Brasil. Contudo, podemos traçar algumas semelhanças e diferenças entre esses dois países e focar nas ações de recuperação e ajustes. Gostaria de começar a comparação pela condição fiscal. Logo após a Grécia adotar o euro como moeda, em 2001, o déficit público passou de 3,5% para 5 a 6% do PIB. Os desequilíbrios fiscais ganharam força durante a severa crise financeira de 2008, tornando a dinâmica da dívida pública insustentável. Entre 2013 a 2014, o déficit público brasileiro passou de 3,5% para 6,7% e vai continuar elevado, pelo menos nos próximos dois anos. A diferença é que nossa dívida pública é bem mais estável, sendo financiada em grande medida por poupança doméstica. A grega depende de recursos externos, principalmente de empréstimos de alemães, franceses e organismos internacionais. Nos últimos dez anos, as condições externas da Grécia prejudicaram o país. O déficit em transações correntes chegou a passar o valor de 10% do PIB, sem ter aumentado o nível de investimento nacional. O país apresentou um cenário explosivo: o aumento da dívida externa sem a geração de riquezas. Neste mesmo período, o Brasil oscilou em relação ao desempenho externo. Inicialmente, operou com superávit externo, acumulou reservas internacionais e ampliou seu volume de investimento, principalmente na construção civil. Conseguiu avançar em programas sociais e chegou a gerar mais de 2 milhões de novos empregos formais. Contudo, nos últimos anos o déficit em transações correntes aumentou para um patamar preocupante de 4,5% do PIB, tornando a economia brasileira muito mais vulnerável às variações cambiais. Ambos os países precisam combater esses desequilíbrios e o Brasil conta com a forte desvalorização de sua moeda; já os gregos não. A recessão na Grécia é tão severa que o mercado de trabalho registra uma taxa de desemprego próxima a 26% da força de trabalho. A economia é pequena e pouco industrializada. Está muito mais focada no turismo e nos serviços, em especial do setor público. Nesta última década, a economia brasileira seguiu essa mesma tendência, vivendo um período de desindustrialização, isto é, a indústria de transformação perdeu espaço na geração de riqueza. Ambos os países deixaram de lado a política industrial e perderam, em termos relativos, um setor que por excelência amplia a eficiência e a produtividade da economia. Esse é um dos motivos pelo fato de que o mercado de trabalho brasileiro esteja se dissolvendo. A taxa de desemprego está em 7,5% e poderá chegar a 10% ainda esse ano. A recente renúncia do primeiro-ministro Alex Tsipra foi uma ação puramente política. Após ter costurado o novo pacote, ele perdeu o apoio do seu partido de esquerda Syriza que é contra o forte ajuste fiscal imposto pelos credores. Recentemente, no Brasil tivemos uma manifestação de apoio à presidente Dilma e ao PT, mas contra o ajuste fiscal. Vai entender isso. Mas voltando para o caso grego. Tsipras pretende mudar de partido e restabelecer sua governabilidade no novo pleito de setembro. Basta saber se o político comunista está preparado para enfrentar os desafios na recuperação econômica de seu país. Mas tanto Tsipras como Dilma devem saber que apenas os ajustes fiscal e externo não irão salvar suas economias. Ambos precisam de um amplo projeto de desenvolvimento e reformas. Com isso, sugiro fortemente algumas ações: diminuir privilégios, implementar uma reforma previdenciária, focar na simplificação tributária e acima de todo traçar uma nova política industrial. Precisamos de um setor dinâmico e focado no processo de inovações. Para tanto, uma maior participação do capital privado produtivo torna-se vital para uma efetiva recuperação. Nota do Editor: Lucas Lautert Dezordi, coordenador do curso de Ciências Econômicas da Universidade Positivo.
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