Brasileiro precisa é de alguém que mande nele. Essa é que é a verdade. Brasileiro, não. Eu acho é que todo mundo precisa. A coisa começa mesmo é nas casas da gente, dentro da família. Pois não fica todo mundo falando que tem saudade da época que era criança e coisa e tal? Pois nossa infância é tão boa porque é justamente nela que a gente não toma decisão nenhuma. Os pais da gente é que tomavam todas as decisões, entende? A gente só tinha que ficar ali, fazendo as coisas que eles mandavam e indo para onde eles queriam que a gente fosse, e isso deixava nossa cabeça livre para pensar em outras coisas, em brincadeiras, no nosso futuro, e coisas assim. É por isso que a gente tem saudades de quando era criança. Porque a gente podia ficar pensando em coisas mais interessantes, e os outros ficavam tomando as decisões. Não é papo meu, repare aí em todas as sociedade humanas que você vai ver que absolutamente nenhuma conseguiu viver sem ter um cara que mandasse nos outros. Os índios, que fica todo mundo falando que são livres e coisa e tal. São livres mais ou menos, oras. Pois eles não têm sempre lá um chefe para mandar neles? Um cacique, um pajé ou coisa que o valha? É claro que têm. Toda tribo, condomínio, cidade, país, e até mesmo numa reuniãozinha de funcionários ou pra organizar uma festa de fim de ano, a primeira coisa que eles fazem é achar alguém pra mandar os outros fazerem as coisas, pra organizar a grana e coisas assim. Eu acho até que esse negócio é meio genético, porque até os bichos precisam de alguém que mande neles. Outro dia desses eu vi no Fantástico uma reportagem falando dos gorilas da África, e que eles também escolhem um gorilão lá, quase sempre o maior de todos, e que todos os outros gorilas aceitam as ordens do gorilão. O gorilão é que escolhe onde é que o bando de gorilas vai comer, o gorilão é que escolhe onde é que eles vão dormir e todas essas coisas. E as abelhas? As abelhas têm até uma abelha rainha pra resolver as coisas pra elas, veja só. Uma abelha rainha!

- Querido, se você não sabe como voltar para o hotel, é só falar.

- Não é que eu não sei, mas sempre eu é que tenho de resolver tudo!

- Tudo bem, vira nessa avenida aí à direita, então.

- Tá.