25/04/2024  08h21
· Guia 2024     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
09/10/2015 - 11h05
Professora, nunca vi um surubim
Roberto Malvezzi (Gogó)
 

Depois de tantos anos assistindo a olho nu a decadência do rio São Francisco, foi chocante ouvir essa frase.

A declaração foi feita por um aluno a uma professora de um colégio particular de Petrolina. Ela também é professora numa escola pública de Juazeiro e, durante um debate sobre rio, citou a expressão para os alunos presentes ao debate.

Ela utilizava a música Boato Ribeirinho (Nilton Freittas, Wilson Freittas e Wilson Duarte) para promover o debate. Uma das belas frases da música é: “Que será, que será de mim? Que será de José, Serafim? Qual será o destino do menino que nasceu e cresceu aprendendo a pescar surubim?”

O olhar dos biólogos da região nos dizem exatamente essa realidade, isto é, a eliminação da biodiversidade do rio – visível e invisível – é a prova dos nove da ciência para confirmar sua morte. A vida está sendo extinta. O volume de água acompanha a decadência. Hoje o São Francisco não tem mais que 900 m³ por segundo.

Toinho Pescador, um poeta de Penedo, Alagoas, é a encarnação permanente da indignação contra esse assassinato programado e persistente. Do alto de seus mais que 80 anos, costuma dizer que “criei meus filhos no luxo, comendo surubim e camarão. Hoje não consigo pescar um peixe pra comer”.

Na página inicial do site das Centrais Elétricas do São Francisco (CHESF) ainda hoje – se não foi retirada – há uma enquete com a seguinte pergunta: “A energia hidráulica ainda é fundamental para o futuro da energia no País?”

Oras, se uma companhia hidrelétrica desse porte está fazendo essa pergunta em seu próprio site, é porque não vê mais futuro no São Francisco e nem mesmo no modelo atual do sistema elétrico brasileiro.

A verdade é que temos muitas barragens, vamos fazer as que as empreiteiras querem ainda fazer na Amazônia, mas ninguém garante que teremos águas para locupletar as barragens e mover as turbinas. A falta de água desmontou a segurança de nosso sistema elétrico. Se é de fazer barragens para encher de ventos, é melhor fazer torres eólicas para gerar energia.

Se um morador da beira do São Francisco, ainda jovem, nunca viu um surubim, é porque nosso rio não tem mais seus peixes nativos.

Não temos o que celebrar em 2015, a não ser as últimas lágrimas que correm no leito do Velho Chico.


Nota do Editor: Roberto Malvezzi (Gogó), articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2024, UbaWeb. Direitos Reservados.