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SEÇÃO
Crônicas
09/10/2015 - 15h00
A outra e eu...
Marina Alves
 

Às vezes, muitas vezes, é preciso a gente se dar um tempo. Busco fazer isso sempre que escuto um sininho interior me avisar. Se antes eu não sabia, agora aprendo com a vida, aprendo com os erros. Com frequência precisamos ser mais compassivos com nós mesmos. Costumo me esforçar para não esquecer isso: é uma questão afetiva, de compreensão, de sobrevivência, de amor próprio — para comigo, para com a minha outra parte-metade.

Quando as coisas não vão bem, me chamo pra conversar. Se me acho um tanto ansiosa vou me pedindo pra sentar e digo com a voz mais doce que consigo: calma, não é o fim do mundo. Espere um pouco que tudo chega no lugar. Na verdade, muitas das coisas que antecipadamente me afligem nem chegam a acontecer e aí reforço: Tá vendo? Não te falei?

Se algo me aborrece, respiro fundo, evito as palavras ásperas, saio pra dar umas voltas. De preferência bem longe da zona do conflito: ver folhas, sombras, canteiros, cores, ouvir sons, vozes de outras pessoas, tudo faz dispersar o foco. Sempre volto melhor que saí.

Outras vezes o melhor é não arredar pé. Se vem alguma chateação — e como tem coisas que chateiam — a vontade é a de pegar a bolsa, dar meia-volta e dizer: Tô indo. Não vou, não faço isso, por saber que a tempestade vai passar e voltando o tempo bom, vou querer voltar para as coisas que amo.

Parece mentira, mas sempre que conto até três, respiro fundo e adio decisões cruciais, raramente eu as tomo: normalmente as coisas são muito diferentes algum tempo depois, num outro contexto. E aí vem aquela tranquilidade boa de saber que palavras desnecessárias não foram ditas, que danos irreversíveis foram evitados.

Não raro, a gente tem vontade de falar uma palavra mais densa. E densa aqui é para não falar a palavra palavrão. Palavrão é palavra que não gosto, também não gosto do palavrão em si. Acho feio quando escrito, desastroso quando dito ou ouvido, e de consequências, efeitos e reações indizíveis e imprevisíveis.

Não dizer um palavrão não significa que a vontade não exista. Só acho que passada a ira, tudo perde importância. E as coisas quase nunca voltam com a mesma cara depois de um palavrão: ofensas são passaporte para a barreira intransponível da mágoa. Ponderação, eis a palavra: o azul que colore de novo a paisagem depois do temporal não convive bem com venenos da língua.

Quando o tempo fecha, também fecho minhas janelas. Vou hibernar até que as nuvens se abram. Acontece de a tristeza pedir guarida. Não me importo. Permito que venha e até bato papo com ela — não sem antes combinar que levante âncora e ice velas ao prenúncio da primeira claridade. Temos sido boas amigas.

Gosto demais da pessoa que vive em mim. Combinamos manter um diálogo lúcido e maduro. Ela entende que é para o nosso bem e me dá respostas favoráveis. Principalmente em questões que nos escapam ao controle. Gosto, sim, da minha outra. Ela também morre por mim, já reparei. Isso é excelente pra nós duas...

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