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Opinião
11/10/2015 - 15h37
Prevenção quaternária e atenção primária à saúde
Hamilton Lima Wagner e Angela B. Papaleo Wagner
 

No já longínquo 1978, iniciava um movimento mundial em busca de cuidados de saúde. A partir da conferência internacional de Alma-Ata, realizada naquele ano, muito se discutiu sobre o que seriam cuidados de atenção primária, mas o espírito do documento original sempre foi uma saúde de qualidade, buscando o melhor resultado para pessoas e comunidades.

A deturpação, decorrente de documentos do banco mundial, de que deveria ser uma cesta mínima de cuidados – e os demais serviços seriam arcados pelos próprios doentes e suas famílias, gerou desconfiança sobre as intenções originais do documento de Alma-Ata. Isto não altera a proposta do colégio de representantes da conferência, apenas ressalta que a agenda é diferente e muitas vezes o poder econômico acaba dificultando a busca pela saúde.

Em 1986 o médico de família Marc Jamoulle, cunhou a proposta do termo prevenção quaternária, visando evitar o excesso de medicina e o uso de tecnologia que não fosse claramente benéfico ao paciente. Quando se analisam os conceitos que fazem parte das definições da Atenção Primária à Saúde (APS), percebe-se que o objetivo é oferecer a melhor atenção, ao longo do tempo, com o uso responsável de tecnologia, advogando em prol do paciente.

A saúde é afetada pelo estilo de vida, e isto implica compreender que as condições de vida e as relações pessoais interferem diretamente no processo saúde-doença. Autores como Engel e Watzlawik são algumas das referências que subsidiaram a Conferência de Alma-Ata, e também por esta influência o documento aí gerado fala em abordagem de atenção primária com olhar biopsicosocial e buscando a compreensão das diferentes formas de expressão cultural e manifestação de saúde, peculiar ao entendimento do que seja saúde dentro de uma dada cultura.

Neste contexto, cada vez mais os gastos em saúde se avolumam, gerando uma preocupação crescente do poder econômico mundial, uma vez que a agregação de novas tecnologias provoca aumento exponencial de custos. E ai é possível compreender a ação do banco mundial, tentando colocar um freio em custos crescentes.

A pesquisa médica avança velozmente, gerando mais precisão e alterando parâmetros de aferição de saúde – nem sempre com melhora de qualidade de vida ou de aumento na expectativa de vida. É neste cenário que surge o conceito de prevenção quaternária, refletindo se tudo o que se propõe é adequado.

O conceito central da prevenção quaternária – “primum non nocere” – busca evitar o excesso de intervenção médica, protegendo, por exemplo, aquelas pessoas que, tendo algum sofrimento, procuram auxílio profissional - mas que em verdade não apresentam um quadro classificável como diagnóstico.

O centro da prevenção quaternária é a busca da história de vida das pessoas e expor esta história frente ao conhecimento médico, um teste improvável, e essencial, onde o conhecimento de vida e os conhecimentos médicos se unem para promover a saúde.

Mas ao se olhar os preceitos da APS – primeiro contato, continuidade, coordenação, integralidade e responsabilidade conseguimos perceber que também neste contexto a busca é da qualidade de vida das pessoas, oferecendo um acompanhamento seguro e equilibrado. Olhando as bases de trabalho dentro da APS vemos também que competência técnica, gestão de recursos e do sistema e o trabalho com olhar na vida – família e comunidade, também sinalizam no rumo de um cuidado integral e centrado em promover a qualidade de vida, evitando o excesso de medicalização.

São conceitos afins e que buscam evitar o problema da excessiva generalização de situações particulares – objeto de estudos clínicos, que geram mudanças nos níveis de intervenção e demandando sofrimento e aumento de custos, porém sem melhorar a qualidade ou a quantidade de vida das pessoas. A tarefa que se impõe pois aos que compreendem e aceitam a prevenção quaternária como um fundamento essencial para a APS é o entendimento das dificuldades impostas pela literatura.

Estudos que redefiniram parâmetros de saúde foram desenhados em cenários diversos da APS, gerando critérios de definição de doenças que não melhoram a qualidade e a quantidade de vida das pessoas, além de agregarem um custo imenso pelo uso de novas tecnologias e medicamentos.

A medicina de família e comunidade é uma especialidade médica, assim como a cardiologia, neurologia e ginecologia. O MFC é o especialista em cuidar das pessoas, da família e da comunidade no contexto da atenção primária à saúde. Ele acompanha as pessoas ao longo da vida, independentemente do gênero, idade ou possível doença, integrando ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde. Esse profissional atua próximo aos pacientes antes mesmo do surgimento de uma doença, realizando diagnósticos precoces e os poupando de intervenções excessivas ou desnecessárias.

É um clínico e comunicador habilidoso, pois utiliza abordagem centrada na pessoa e é capaz de resolver pelo menos 90% dos problemas de saúde, manejar sintomas inespecíficos e realizar ações preventivas. É um coordenador do cuidado, trabalha em equipe e em rede, advoga em prol da saúde dos seus pacientes e da comunidade. Atualmente há no Brasil mais de 3.200 médicos com título de especialista em medicina de família e comunidade.


Nota do Editor: Hamilton Lima Wagner e Angela Beatriz Papaleo Wagner, médicos de família e comunidade, membros da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).

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