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Crônicas
16/05/2005 - 11h04
O Lamas e o JB de domingo
José Sergio Rocha
 

Uma noite dessas fui ao Café e Restaurante Lamas, perto do Largo do Machado. Para quem não conhece o Rio, o centenário Lamas, mesmo um pouco decadente, ainda é um dos templos da boemia carioca, daqueles que têm garçons com mais de 30, 40 anos de bandeja. Freqüentado por biriteiros de estirpe, poetas malditos, atores, atrizes e, principalmente, jornalistas, foi o lugar escolhido por um grupo de antigos colegas da Redação do "Jornal do Brasil" convocados pelos ex-repórteres Roberto Ferreira, Sergio Fleury e Vera Perfeito para um encontro que agora se tornou mensal.

A maioria dos que foram estava na casa dos 50 e havia também parcelas de quarentões e sessentões, e até gente na faixa dos 30 e dos 20, todos muito bem de astral, nem tanto de cobres. Repórteres, redatores, fotógrafos, editores, diagramadores. Evidentemente, o assunto principal da maioria das conversas foi o novo JB. E a piada mais repetida era a de que o Ziraldo ia aparecer a qualquer momento e contratar todo mundo a peso de ouro.

Importante dizer ainda que no Lamas, durante a ditadura militar, as paredes tinham ouvidos. Sei de pelo menos um "habeas data" citando o café da Marquês de Abrantes como um lugar de reuniões comunistas. A mais engraçada, segundo me contaram, em meados dos anos 70, ocorreu justamente quando vários jornalistas haviam sido absolvidos num inquérito do Exército que apurava a formação de uma célula do PCB e foram ao Lamas festejar. Os indiciados se comprometeram a participar de uma comemoração discreta, sem dar bandeira. Eis que surge veterano jornalista, pra lá de caneado, cantando "A Internacional" em altos brados. O Lamas era, um pouco, o Rick´s Bar do filme "Casablanca". Não havia alemães nas mesas próximas ao encontro que o falecido Georges Cabral quase estragou, mas com certeza algum dedo-duro o espreitava.

Voltando à vaca fria e ao chope gelado da atualidade, foi inevitável que, no domingo seguinte ao da festa, este que passou, depois de muito tempo, eu comprasse na banca o jornal em que trabalhei tantos anos. Pois é, tentei ler o novo JB sem preconceito. Não importa se o fiz como jornalista, leitor comum ou ex-funcionário. Juro que esqueci as malvadezas das novas gerações da família Brito e do empresário Nelson Tanure com colegas de quem gosto - o último da lista é o ex-editor-chefe Marcus Barros Pinto, que autodefenestou-se por não ter sido informado das contratações feitas pelo patrão -, até porque poucos donos de jornais não cometeram perfídias.

Bom, li e não gostei da primeira página, mas achei que o Caderno B não estava ruim. Achei interessante a entrevista, sob o belo título "Habemus Papo", em que Leonardo Boff contou detalhes de seu tête-à-tête com o pastor alemão que mudou a razão social para Bento XVI, o primeiro bate-cabeças que tiveram depois que o então cardeal Ratzinger mudou de progressista para conservador e puniu o teólogo brasileiro por seus supostos atentados ao dogma da Santa Madre.

Gosto do texto de Fausto Wolff, mas não de sua paródia de coluna social assinada como Natanael Jebão. Lá estavam a crônica do Antônio Torres, um poema de Reynaldo Jardim, Luiz Pimentel falando de música popular brasileira com a propriedade de sempre e muitas tiras nacionais. Ziraldo Alves Pinto, novo editor do B, quer transformar o suplemento em mais uma reencarnação do "Pasquim". Da última página não gostei porque acho que a coluna de gente cabe em qualquer outra parte do jornal. Na última do B cairia melhor o "Almanaque" de Mauro Santayana. Gostei, portanto, da entrevista, dos quadrinhos e do Pimentel. Do primeiro caderno gostei pouco.

Tentei ler sem preconceito, coisa de leitor chato. Ainda não dá para confiar num jornal que tem mais vice-presidentes do que repórteres em certas editorias. Não houve reengenharia no JB. A equipe atual, excessivamente enxuta, é o resultado de um processo de autodestruição iniciado nos anos 70, com a mudança do jornal da Avenida Rio Branco para o elefante branco da Avenida Brasil, 500 - um prédio cheio de luxos e chiquês, erguido para que pudesse abrigar, além do JB e suas rádios, uma emissora de TV que acabou entregue a Sílvio Santos.

Aquela noite no Lamas reuniu metade da primeira reunião, na Fiorentina. Ziraldo, que não tem culpa do que aconteceu no JB, não apareceu e, portanto, não contratou ninguém a peso de ouro. Quem sabe ele vai na próxima. Se chegar, com certeza será bem recebido. Mas prepare o ouvido para ouvir mais gozações do que pedidos de emprego. Tem gente que prefere perder emprego do que uma piada.


Nota do Editor: José Sergio Rocha é jornalista.

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