Volto ao passado, acho que ninguém pode esquivar das suas recordações. Acho que recordar é algo tão natural quanto respirar, dormir, comer, amar e etc e coisa e tal, tão ligados? Eu diria que recordar é uma necessidade inerente ao ser humano. É claro que acho natural que os mais jovens não liguem para o exercício das recordações. Ainda não é tempo de fazer isso, mas uma coisa é certa: o jovem de hoje será o coroa do amanhã, e quando isso acontecer ele também vai curtir o passado. É uma questão de tempo, do tempo que São Paulo dizia ser o senhor da razão. Estava ontem num café quando um amigo que tem a paciência e a caridade de ler os meus escritos reclamou que eu não estava falando nos livros didáticos de antigamente, que tinha apenas me referido à Carta do ABC. Resolvi então dar uma palhinha sobre o assunto. Realmente a minha geração começou a aprender a ler com a velha e tradicional Carta do ABC de Laudelino Rocha, ela tinha no final provérbios incríveis. Um deles: “A preguiça é a chave da pobreza”. Depois passamos para a “Cartilha do Povo”. Lembram–se dela? E houve também os livros de Felisberto Carvalho. Recordo de uma expressão que ainda hoje repito: “o cão do segundo livro de Felisberto Carvalho”. Houve uma coleção chamada “Vamos Estudar?”, o mais difíceis eram o da quinta série e de Admissão ao Ginásio". Havia também a “Aritmética de Trajano” e a Gramática Expositiva de Carlos Eduardo Pereira. Para o lazer tínhamos os livros de Monteiro Lobato. Livros que, contando histórias, ensinavam muita coisa. Lembro–me também dos livros de História do Brasil e História Geral de Borges Hermida. São livros que não esqueço. Dia desses, num sebo, alisei vários deles, mas não comprei, tive vontade, estava com o dinheiro mas não comprei. Por um motivo muito simples: estavam se desfazendo, largando aquela poeirinha e isso, infelizmente, me dá asma na hora. Mas alisei bastante os livros, sobretudo a Aritmética de Trajano, ela tinha uma capa dura e um reforço de lona na extremidade. Alisei muito aqueles livros que me fizeram lembrar da minha infância e adolescência. Tudo que sei aprendi neles. Fica, portanto, o registro dos livros didáticos de antigamente, do tempo que os professores não fingiam que ensinavam e nem os alunos que aprendiam. Naquele tempo o ensino era sério. Juro.
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