A melhor definição que conheço de estatística é a que diz que ela é a arte de torturar os números até que eles digam o que você quer ouvir. Foi isso que me veio à mente no último dia 09 de maio ao ouvir o último absurdo divulgado pelo Ministério da Justiça e apresentado como prova cabal da vitória da tresloucada estratégia de desarmar a vítima para diminuir a criminalidade. Em matéria seguida de entrevista com o Ministro da Justiça, o governo apresentou o seguinte dado, propagandeando vitória: em dois estados da federação, os números de internações e atendimentos em hospitais em decorrência de ferimentos por arma de fogo diminuíram. Posteriormente, na entrevista, o Sr Ministro defendia a tese da conexão direta desta redução com a política de redução das possibilidades de defesa das vítimas ou, como chama a retórica petista, política de desarmamento. Vamos fazer algumas considerações ao Sr Ministro: 1) É óbvio, Sr Ministro! Dentro do número geral "internações ou atendimentos por ferimento de arma de fogo" estão todos lá: o cidadão baleado no sinal vermelho, os mortos na guerra do tráfico, o taxista assaltado e baleado, o cidadão de bem que tenta ganhar a vida honestamente e tem que defendê-la sozinho contra o exército de criminosos que circula por aí, e até a criança que se acidenta em casa quando brincava com a arma do pai. No número de onde o Ministério parte, estão todos lá: os 150.000 homicídios anuais do Brasil, os 150.000 crimes e os acidentes domésticos. É lógico, Sr Ministro, que reduzindo o número de armas nas casas dos cidadão de bem, os acidentes diminuem. Mas, enfim, qual a relação que o Ministério enxerga entre diminuir os acidentes com armas e diminuição da criminalidade? Quão mais seguro está o cidadão comum? Em quanto foi reduzido o tráfico de drogas? Quantos seqüestros a menos foram cometidos? Por que o Brasil insiste em não respeitar a metodologia internacional para o cômputo de homicídios? Cadê suas vitórias contra o crime, Sr Ministro? Elas são reais ou só mais um auto-engano forçado goela abaixo na população? 2) Se a estratégia de reduzir a possibilidade de defesa da vítima é tão eficaz contra o crime como quer o governo, por que só em dois dos vinte e sete estados da federação brasileira os números de "internações em decorrência de ferimentos com arma de fogo" diminuíram? Que mágica estes dois estados fizeram? Por que nos outros vinte e cinco a coisa não funcionou? Os números não mostram justamente a ineficácia desta política, Sr Ministro? 3) O governo, dando continuidade ao seu passatempo predileto, ou seja, persistir decididamente no auto-engano, ainda apresentou como grande conquista o fato de que a redução dos acidentes com armas de fogo ajudou a economizar R$ 1,6 milhão. Sei que para o cidadão comum, aquele que trabalha diariamente e vê quase cinco meses de salário ir para o governo na forma de impostos, R$ 1,6 milhão é muita coisa. Mas, enfim, para as contas do governo isso não é praticamente nada! Em fevereiro deste ano nossa dívida pública era de R$ 960 bilhões, ou seja, seria preciso algo em torno de 600.000 meses seguidos economizando R$ 1,6 milhão, sem computar os juros, para pagar a dívida do setor público. Não seria mais eficiente, para a economia pública, para o bolso do contribuinte e para o bom trato com o dinheiro público que o governo economizasse, por exemplo, com os salários dos quase 20 mil funcionários contratados via Medida Provisória? Por que o senhor não apresenta estas estatísticas, Sr Ministro? Será só pelo fato que estes números não dizem o que o Sr quer ouvir? Ou será pelo fato que eles demonstram o que já não dá mais para esconder: o atual governo é uma sucessão de erros, um enorme construtor de ruínas, todas muito bem maquiadas pela ação cosmética ou da publicidade, ou das falsas estatísticas ou da retórica falaciosa.
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