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Opinião
17/05/2005 - 07h37
Economia brasileira segundo Luiz Inácio
João Luiz Mauad - MSM
 

A mistura da soberba com a ignorância costuma ser explosiva. Lembrei-me deste dito clássico na semana passada, quando o inevitável senhor de todos os púlpitos, locatário compulsório dos ouvidos alheios, pulverizando as próprias marcas anteriores, conseguiu estabelecer um novo recorde na produção de disparates.

Não me refiro mais às agressões ao idioma de Camões e Machado, coisa já sem importância nessa Pindorama total e irreversivelmente imbecilizada. Falo de coisas muitíssimo mais profundas e preocupantes, principalmente quando vindas de alguém com o poder que detém o Presidente da República. Infelizmente, não há como reproduzir neste pequeno espaço todas as parvoíces ditas pelo indigitado cavalheiro, razão pela qual irei ater-me àquelas de cunho eminentemente econômico, ideais para a análise que pretendo fazer mais à frente. No entanto, caso o estimado leitor esteja disposto para a tragicomédia, sugiro uma visita à pagina da presidência, onde encontrará alguns pronunciamentos de fazer inveja à turma do Casseta e Planeta.

Em 25 de abril a primeira papagaiada: "... e é por isso que eu digo todo santo dia: nós estamos transformando o Brasil, que é um país capitalista, em um país com capital na mão do povo, ou seja, com um pouco de dinheiro, porque dizia o nosso Jorge Viana, governador do Acre: muito dinheiro na mão de poucos significa apenas concentração de riquezas; pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de renda".

No dia seguinte, sem que nenhum assessor o tivesse advertido para a fulgurante besteira da véspera, ele completou a obra: "E eu estou apenas provando uma coisa que eu imaginei a vida inteira. Se nós somos um país capitalista, é preciso que o povo tenha o mínimo de capital, é preciso que o povo tenha acesso ao mínimo de mecanismos para que possa ter acesso à compra."

As estapafúrdias declarações acima confirmam que o ex "sapo barbudo" (apud Leonel Brizola), hoje príncipe encantado da grande mídia, não tem a mais vaga idéia do que seja "capital", para não falar do conceito de "país capitalista". Apesar de ser considerado um dos baluartes da esquerda latino-americana, certamente jamais leu Marx, nem mesmo o mais breve compêndio. Tivesse ele se interessado, por mais superficialmente que fosse, em sondar as origens da escalafobética "luta de classes" - a que recorrentemente se refere -, não sairia por aí confundindo capital com papel moeda, acesso ao crédito com poder de compra, numa lamentável demonstração de despreparo para o cargo que ocupa.

No próprio dia 25/04, não satisfeito com as asneiras anteriormente pronunciadas, saiu-se com esta que foi considerada, sem dúvida, uma das mais famosas pérolas de sua vasta coleção: "... de preferência na sexta-feira, ele está lá, xingando o banco, ele está xingando os juros, ele está xingando o cartão de crédito dele, mas, no dia seguinte, ele é incapaz de levantar o traseiro de um banco, de uma cadeira, e ir ao banco mudar, ou ir para o computador fazer a transferência da sua conta para um banco mais barato. É o comodismo. É o comodismo das pessoas que reclamam de noite mas, de dia, se conformam, ou seja, não há uma ação, porque se as pessoas tivessem consciência, ninguém pagava 8% de juros ao mês. Ninguém pagava."

Eu sei, amigo leitor, que o disparate acima já foi sobejamente reproduzido pela mídia. Sei também que muito já se falou a respeito dos traseiros brasileiros e não pretendo alongar-me nesse assunto, mesmo porque já escrevi um outro artigo sobre a matéria tempos atrás, intitulado "o que se vê e o que não se vê", onde procurei evidenciar que o maior culpado pelos juros altos no Brasil é o próprio governo com sua gastança irrefreável. Porém, em razão da tese que pretendo sustentar hoje, era importante que rememorássemos também esta pequena "aula de economia" presidencial.

Finalmente, em 02/05, o nosso exímio orador coroou a sua tríade econômica (capital, juros e câmbio) da semana com a seguinte lição: "Para que isso possa acontecer, vocês estão acompanhando as coisas que estão acontecendo, apesar do câmbio, de que muita gente fala, mas a gente deveria fazer uma comitiva para ir se queixar do câmbio onde efetivamente está a razão da desvalorização do dólar, que não é no Brasil. Todo empresário sabe que o câmbio tem um problema com a política americana e não é um problema para que nós resolvamos do jeito que alguns imaginam."

Pronto, estamos conversados. Como sempre a culpa de todos os problemas é do Bush. Nada a ver com a estratosférica taxa de juros que provoca verdadeira derrama de dinheiro alienígena no mercado doméstico. Nada a ver, também, com a decisão (devidamente divulgada) do BACEN de comprar apenas mais US$ 2,5 bilhões até o fim do ano. Sem falar nos efeitos óbvios do superávit médio de US$ 3 bilhões mensais na balança comercial.

Diante de tanta estultice, seria lógico supor que o mercado estivesse em polvorosa ou, no mínimo, preocupado com o futuro da economia de Pindorama. Mas não, contrariamente ao que era de se esperar, reina a mais completa tranqüilidade nas hostes econômico-financeiras da Pátria Amada. Alguém já disse que estabeleceu-se no "inconsciente coletivo" a idéia de que o presidente pode dizer as tolices que quiser, pois ninguém o leva em conta. É como se ele fosse a rainha da Inglaterra, um mequetrefe qualquer. O que vale mesmo é o que dizem o Palocci, o Meirelles e companhia limitada.

Permito-me discordar do senso comum. Não enxergo a coisa com tal simplicidade e tranqüilidade. O homem já deu mostras de que quem manda, em última instância, é ele. Esse papo de rainha da Inglaterra é furado. Lembram da recente reforma ministerial? Nem mesmo o fiel escudeiro José Dirceu, que parecia tão forte antes do escândalo "Waldomiro", tem qualquer ascendência sobre esse inquieto personagem da mitologia tupiniquim. A maior prova disso está justamente acima. O loquaz imperador pode falar a besteira que desejar e ninguém tem coragem sequer de chamar a sua atenção para o ridículo da situação.

Além do fato de ser ele quem efetivamente manda e não o Palocci, como muitos desejariam, acho que o presidente só manteve até agora essa política econômica, digamos, "pés no chão" (mesmo diante de todo barulho dos barbudinhos da ala radical do PT), porque ela lhe tem rendido exagerados salamaleques, principalmente no front externo. Essa adulação quase permanente, para um indivíduo sabidamente vaidoso, é como bálsamo. Um prazer indizível. Não acho, portanto, que seja uma opção racional, pensada, mas, antes, uma decisão muito mais emocional, insustentável se os ventos mudarem. Rezo todas as noites para que eu esteja errado.


Nota do Editor: João Luiz Mauad é empresário e formado em administração de empresas pela FGV/RJ.

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