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Opinião
28/11/2015 - 14h00
Pedagogia de balcão
Daniel Clemente
 

Em reuniões pedagógicas os educadores costumam atribuir suas atitudes como exemplos didáticos, uma referência para o aprendizado dos que se colocam a disposição a ouvi-los. Entre as exemplificações detalhadas, um educador em determinada oportunidade faz uma demonstração sobre o valor da educação no comportamento social: “Quem não leva a sério os estudos escolares encontrará locação profissional em subempregos, o destino o conduzirá a ser atendente do McDonalds. O que diferencia as pessoas é o lado do balcão que se encontram”. Uma clara demonstração do papel da educação em massa, a de definir o opressor e o oprimido, senhor e servo, patrício e plebeu.

No florescer de sua adolescência uma garota cursando o ensino médio aspira ser professora, fato curioso em um país sem estímulos para educação ver o nascer de um educador, seria o mesmo que ver germinar uma semente em meio ao asfalto. Mas para corrigir a anormalidade nada melhor do que a repressão do óbvio, a mãe da adolescente preocupada com o futuro da filha logo adverte: “Não estou pagando escola particular para que seja uma professora, estude para ser alguém na vida”. A mãe sem dúvidas ama sua filha, transmitindo valores e conceitos sobre sucesso e felicidade. Porém, ao investir recursos financeiros atribui na escola a missão de conduzir sua filha aos caminhos seguros do sucesso profissional, mas a única situação que o colégio pode oferecer é o convívio diário com os professores, ou seja, aqueles que não deram certo na vida, os fracassados, maus exemplos por excelência, más companhias. Segundo a lógica da mãe, o certo seria retirar sua filha da escola para que as más influências não fossem seguidas. E com a filha diariamente ao seu lado poderia mostrar como viver e obter o esperado e almejado sucesso.

O Brasil é o país dos privilegiados, sendo que todo privilégio é a garantia de acesso aos recursos sociais e econômicos por alguns em detrimento a exclusão de muitos, a base de sustentação do privilégio é a desigualdade na distribuição de direitos e oportunidades. Assim ocorre na área educacional, onde a grande porcentagem de colégios espalhados pelo território nacional apresentam péssimas condições materiais para exercer sua função primordial. A meritocracia escolar difunde o abismo entre as classes econômicas, privilegiando alguns e excluindo todo o restante do processo de aprendizagem.

É a percepção sobre o privilégio que realiza julgamento a partir do lado do balcão que o indivíduo se encontra, que determina o sucesso pelo título profissional e não pela satisfação pessoal, e que faz dos centros educacionais a reprodução das desigualdades a partir da consciência. O opressor injeta no oprimido seu modo de vida, que o reproduz com eficiência e vê na desigualdade social um mérito. George Orwell em seu clássico romance “1984” descreveu o oprimido adorando o opressor: “Ia andando pelo corredor de ladrilhos brancos, com a impressão de andar ao sol. Por fim penetrava-lhe o crânio a bala tão esperada. Mas agora estava tudo em paz, tudo ótimo, acabada a luta. Finalmente lograra a vitória sobre si mesmo. Amava o Grande Irmão”.


Nota do Editor: Daniel Clemente é professor de História e Sociologia no Colégio Adventista de Santos e Pós Graduando em História, Sociedade e Cultura PUC-SP. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)

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