(1) Não podemos deixar que palavras, adornadas com toda aquela pompa de bom-mocismo, nos intimidem. Palavras, por mais bonitinhas que possam parecer, sempre são menores que a verdade. Contrariar isso ou é sinal de demência, ou da mais pura sacanagem. Se o sujeito for um militonto, as duas coisas estão juntas e bem misturadas. (2) Em muitos países as leis são instituídas a partir de normas costumeiras. No Brasil não. Aqui as leis, muitas vezes, são instrumentalizadas com o objetivo de perverter os costumes para que grupelhos manhosos e mal-intencionados possam impor pra toda sociedade a sua sanha totalitária travestida de justiça supostamente social. (3) Todo caipora que diz rejeitar toda e qualquer forma de autoridade (moral, intelectual, policial, professoral etc.), no fundo, o que ele está querendo dizer é que a sua pessoinha respeita apenas a sua própria autoridade (existente ou não) e nada mais. E o trem não para por aí não! Na realidade, esse tipo de sujeitinho não passa dum reles, perene e incurável moleque mimadinho que não quer saber de aceitar o fato de que ele não será tratado pelo mundo como o filhinho da mamãe (tolinho). Doravante, muitos desses tipos acabam, por infortúnio do destino, tornando-se “otoridades” e, mutatis mutandis, passam a exigir de todos aquilo que ele nunca foi capaz de ofertar a ninguém: o tal do respeito. Aliás, respeito e autoridade são coisas que esse tipo de biltre não sabe o que é (apesar de serem exímios dissimuladores quando lhes convêm) haja vista que seus olhinhos não conseguem elevar-se acima das muralhas de seus interesses umbilicais. (4) Quando a tradição, os ditos bons costumes, são desdenhados e os juízos morais ficam unicamente a mercê dos caprichos dos indivíduos, ou de grupelhos ideologicamente desorientados, inevitavelmente as relações humanas tornam-se infernais onde a insanidade torna-se o critério realidade. E, infelizmente, é justamente isso que toda essa patacoada politicamente-correta vem insistentemente fazendo através de nosso sistema anti-educacional. (5) Dois tipos perigosos: o idiota convencido de que é um gênio e o canalha que se julga moralmente correto. (6) A grande literatura universal, como direi, é o receptáculo que abarca todas as possibilidades de realização humana. Possibilidades tanto augustas quanto funestas. Lendo as obras desse livresco panteão inevitavelmente ampliamos o nosso horizonte de compreensão do mundo, da vida e, é claro, de nós mesmos. Em suas páginas aprendemos tudo o que um ser humano é capaz de fazer; vislumbramos diante de nossos olhos, através das palavras magistralmente escritas, tudo o que podemos ser e aquilo que, por incapacidade pessoal nossa, nunca poderemos realizar. Enfim, por essas e outras que a grande literatura universal é a única vacina conhecida contra a idiotia universalmente disseminada pelos quatro cantos do mundo e que, no Brasil, mais do que em qualquer outro lugar, é epidêmica. (7) Quem não reverencia a grande literatura universal não é digno de respeito. Aliás, um sujeito que aprende a ler e, soberbamente, faz beicinho para Dostoievski, Fernando Pessoa, Shakespeare, Dante, Homero, Virgílio e tutti quanti, achando que isso seria uma demonstração de excelsa distinção, na verdade não passa de um caipora que não vale a dignidade duma flatulência, pois, quando decide abrir a sua boca, essa exala abundantemente o que há em seu íntimo: uma fartura de peidos verbais e de ideias fecais. E isso é tudo o que há. Apenas isso e nada mais. (8) A medida de nossa grandeza, e de nossa miséria, é dada por nossa imaginação. (9) O beócio mais perigoso que existe é aquele que devota toda a sua atenção a um único livro. Há muito Santo Tomás de Aquino nos adverte sobre esse tipo demasiadamente humano. E assim o é porque o caboclo transforma as luminosas páginas dum alfarrábio qualquer numa viseira para cegá-lo do perigo das pirambeiras que cercam a sua vida mesquinha. Não sabe ele, na verdade, não quer nem saber, que, como nos ensina Jorge Luis Borges, para se entender um único livro é preciso ter lido muitos outros; da mesma forma que para entendermos apropriadamente uma única frase dum livro precisamos ler toda a obra, de fio a pavio, onde ela se encontra. Uma verdade simples como o nascer e o pôr do sol, uma verdade que qualquer pessoa razoável compreende; menos esses tipos presunçosos que preferem perecer afogados em sua soberba ao invés de, simplesmente, abrir e limpar os olhos de sua encalacrada estultice. (10) Uma das maiores tragédias do Brasil é, infelizmente, a falta de amor pelo conhecimento e a grande carência de coragem para conhecer. (11) Onde o amor encontra-se à míngua, a covardia desavergonhadamente impera. (12) Uma sociedade governada por pessoas deseducadas, de personalidade disforme, grotesca e mesquinha, não pode esperar, muito menos exigir, que os mancebos sejam melhores que a geração que os antecedeu. (13) Todo aquele que nasce numa sociedade tacanha, mesquinha e canalha, tem o dever de se tornar uma pessoa digna, prestativa e boa. Não porque deva honrar a atual geração que diz cuidar do futuro de todos, mas sim, para não aumentar o fardo de baixezas que será legado para as futuras gerações; para não sermos igual àqueles que tanto desprezamos. (14) Nada é mais ridículo e degradante que querer justificar a sua incapacidade e fracasso no esforço exitoso dos outros.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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