(1) Fofoca é uma merda, todo mundo sabe disso; talvez, por isso mesmo, tantos a apreciam tão gulosamente e sem o menor pudor ou moderação. (2) Em todo e qualquer lugar o falatório abunda. A principal pauta desses colóquios flácidos é a vida alheia, principalmente as intimidades sórdidas. Infelizmente, o que há de pior nessas futilidades não são elas em si, mas sim, a sua sinistra capacidade de prender a nossa atenção às imagens que suas palavras evocam, fazendo aflorar o que há de mais vulgar em nossa alma. (3) Se um caipora vier pro seu lado pra lhe contar uma resma de fofocas, ou qualquer coisa do gênero e se você quiser cortar a prosa sem ser deselegante, interrompa o caboclo, no meio de sua palestra, dizendo que leu um livro; discorra sobre ele com tanta sagacidade quanto ele lhe contava a futrica e, pode crer, que a conversa acaba na hora e dificilmente você terá qualquer outra notícia vinda dos lábios do sujeito. Porém, todavia, entretanto, para que isso funcione você precisa ser um leitor. Um bom e frequente ledor. (4) Por traz dum aluno displicente frequentemente tem-se a presença de pais indiferentes para com o destino do rebelde infante. Pior! Em alguns casos, não existe a presença da figura do pai; há outros que se têm uma rotação de homens que dissimulam esse papel e, noutros tantos, não encontramos nem mesmo a imagem materna. E, é claro, há ainda aquelas situações em que não há nem um, nem outro. Nem mãe, muito menos pai. Pois bem, chamar um cenário como esse, pintado com essas cores, de família, é um misto de cinismo com uma total falta de senso das proporções ou de misericórdia. E tem mais! Nominar, arbitrariamente, um quadro de desesperança como esse de família, de modo algum irá remediar ou aliviar o sofrimento dos desprezados mancebos e dificilmente gerará algo análogo ou semelhante ao que deveria ser uma amorosa procedência. (5) Se a prudência é a mãe de todas as virtudes, a coragem moral é o pai. (6) A preguiça é a mãe de todos os vícios da mesma forma que a prudência é a genitora de todas as virtudes. (7) Poder! Ah! O tal do poder! Desde tempos imemoriais até os modernosos dias atuais, ele continua a ser o melhor espelho da alma humana; aquele que mais eficazmente revela o caráter de uma pessoa; seja de um fidalgo ou de um Zé ruela. (8) O amor constrói, o medo destrói e o bom-mocismo politicamente correto corrompe até o talo. (9) Qualquer caboclo investido de poder, com grande facilidade torna-se incapaz de reconhecer a diferença abissal que há entre a sinceridade fraternal e a bajulação oportunista. (10) Todo dia é um marco zero. Todo nascer do sol exige de cada um de nós a reconquista da nossa dignidade existencial originária. Quem ignora isso sempre será apenas, e unicamente, uma sombra fria, totalmente desprovida de forma e graça. Mesmo que seus dias sejam abastados; por mais que se esforce pra dissimular o contrário, sempre será apenas isso e não mais do que isso: uma vida humanamente vazia. (11) O mimimi politicamente correto é o tal do trem fuçado que asfixia a inteligência, tortura as palavras e mutila a literatura e assim o é porque esse negócio de sentir-se ofendidinho por qualquer coisinha reduz o caráter do sujeito ao nível de um chihuahua estressado. (12) Dum modo geral, os incapazes sem caráter superestimam os méritos que eles não possuem e subestimam e desdenham os talentos de todos os outros que, simplesmente por existirem e possuírem esse ou aquele dote os afronta com sua luminosa presença e, por isso, tais indivíduos não passam de sombras; infelizmente, todas essas almas sebosas que perambulam de lá para cá, sem rumo nem prumo, feito um walking dead, não estão em falta nos mercados dessa terra desesperançada. (13) O medo mutila a inteligência, atrofia a escrita, amordaça a sinceridade e, consequentemente, inviabiliza o coração humano pra receber a luz e a graça da verdade que quer amorosamente habitá-lo. (14) Um homem tem razão quando ele procura dizer a verdade e não apenas ter razão.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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