A entrevista do ministro Joaquim Levy, da Fazenda, é um novo complicador para o conturbado fim-de-ano dos brasileiros. Depois de queimar sob o fogo amigo durante um ano, o executivo dá sinais claros de que está fora e que isso é apenas questão de dias. Fala claramente da opção do governo por aumentar impostos mas não fazer a contrapartida das reformas para evitar gastos. Sua “despedida”, que acabou vazando da reunião do Conselho Monetário Nacional é ingrediente forte nesse momento tão singular na política brasileira. A partir dela – e da entrevista – o governo está praticamente sem ministro da Fazenda. Pinçado, por sua competência e seriedade, no seleto meio dos executivos bancários, Joaquim Levy, chegou ao governo, no final do ano passado, com a difícil tarefa de rever as medidas temerárias adotadas pelo governo durante a gestão de seu antecessor, Guido Mantega, hoje vaiado pelo povo e sob o risco de ser processado por causa das “pedaladas fiscais”. Ao aceitar a missão de consertar a economia, não observou os compromissos que a presidente Dilma e o PT assumiram com a população durante a campanha eleitoral. Parece que não sabia das promessas de não mexer nos direitos dos trabalhadores “nem que a vaca tussa”. Sua primeira medida foi a alteração no seguro-desemprego e outros itens trabalhistas. Foi o suficiente para “a vaca tossir” e o governo passar a ser contestado até por seus próprios aliados. Levy carregou consigo a responsabilidade de fazer um trabalho de reformas sérias. Tanto que o próprio mercado o apoiou, mesmo tendo de pagar a conta do ajuste. Só continuaram contra sua ação aqueles que ganham nas costas do governo e, de forma inacreditável, hoje saem às ruas em apoio à presidente e contra seu ministro da Fazenda. A crise é profunda. Os indicadores econômicos são a maior prova disso. Pior que o governo não encontra argumentos para conseguir aprovar no Congresso Nacional as medidas necessárias ao reequilíbrio. Talvez lhe falte credibilidade e haja a certeza dos oposicionista de que, aprovando as medidas, o PT irá alardear ter colocado o país novamente nos trilhos e, com isso, ainda tentar eleger o próximo presidente da República. Mas o Congresso também segue em desequilíbrio, com importantes figuras enlameadas pela mesma corrupção que maculam setores do governo e sem poder de decisão. Tanto que a questão do impeachment acabou sobrando no Supremo Tribunal Federal para a decisão quanto às formalidades. Infelizmente, o Brasil está mergulhado numa crise sem precedentes onde quem sofre é a população. Os agentes dessa contenda precisam ter pelo menos um pouco de patriotismo para buscar uma solução. A Nação não pode sangrar indefinidamente... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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