Quanto mais avançam as investigações da Operação Lava-Jato e suas subsidiárias, mais nomes de políticos e seus áulicos aparecem envolvidos em desvios de dinheiro público ou estatal, que tentam justificar como recursos destinados ao custeio das campanhas eleitorais. Os principais nomes da República e da política regional aparecem como beneficiários das propinas e desvios resultantes de obras superfaturadas. Todas as semanas, conforme vão se desenrolando as investigações e tomadas as delações premiadas, novas figuras caem no mar de lama. Os processos já demonstraram que muitos dos recebedores desse dinheiro sujo o utilizaram para a ampliação do patrimônio pessoal. Alguns deles, inclusive, já estão na cadeia por conta disso. A sensação que resta ao cidadão comum é de que vivemos num país de ladrões onde as leis, se existem, são obsoletas ou nunca foram respeitadas. Dinheiro público e das empresas estatais deveria ser tratado como coisa sagrada, pois sua falta resulta no sofrimento e até morte do povo, o legítimo dono daqueles recursos. Jamais deveria se admitir que cartéis se formassem para assaltar os cofres estatais e muito menos para dividir o produto do roubo com aqueles que têm o dever de administrar e guardar o cofre. O surgimento dos nomes de diferentes partidos, no entanto, tem nos levado à conclusão de que algo muito sério precisa ser feito em termos de custeio das campanhas eleitorais. Há que se saber e comprovar como são pagos os custosos jatinhos utilizados pelos candidatos, de que forma são contratados os serviços de propaganda e sustentação das candidaturas e todas as nuances do processo. Tudo isso tem de ser custeado de forma lícita e passar pelo crivo da Justiça Eleitoral. Os partidos políticos têm de ter vida própria e serem passíveis de falência como qualquer empreendimento. O império da impunidade nos trouxe à situação caótica em que nos encontramos. Governo sujeito a cair, dirigentes e boa parte do parlamento comprometidos, partidos manchados e o Judiciário chamado a decidir aquilo que os políticos deveriam ser suficientes para executar. Precisamos mais do que a decisão sobre impeachment, cassações, afastamentos ou troca de ministros. O Brasil carece de uma reengenharia onde os partidos políticos vivam por conta própria, acabe a promiscuidade da troca de cargos e benesses por votos e a função pública seja encarada como um serviço à comunidade e não um meio de vida e enriquecimento. A coisa pública tem de ser sagrada, imexível! Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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