A mãe é o ganho de tudo. Comparada a uma árvore, assume esse primitivo símbolo histórico e bíblico símbolo da vida que inclusive se faz análogo àquilo que nos dá a vida, faz de nós ramos ou bons frutos. A relação entre mãe e filho é tamanha que supera qualquer outra existencial, motivando inúmeras comparações, sobretudo a de causa e efeito: só há filho, se houver mãe; ou corrigindo o provérbio "talis pater, talis filius" para "talis mater, talis filius!" (Tal mãe, tal filho), porque é quem nos forma e educa mais do que o pai. A natureza não nos leva a pensar diferentemente, é no ventre materno onde se realizam formação e proteção. Há poucos dias perdi a minha mãe, morreu nos meus braços, lembrando-me que nasci do seu corpo; tentei dar respiração a quem me deu carne, sangue e vida. Não consegui dar-lhe continuação à sua existência, faleceu depois de muitos anos vividos e bem amados por mim e por todos os meus sete irmãos e irmãs, que experimentaram a mesma bela trajetória: como a companhia da criadora com as crias, como com a dos ramos com a árvore, e já crescidos, como a das flechas com o arco... Nas nossas idades, somos ramos, mas nos sentimos mais flechas que se desprendem do arco para seguirmos nosso destino. Contudo, o amor nos vincula ao arco e faz com que a separação seja dolorida. Quando o filho se vai antes da mãe, ela chora a amputação do membro, mas como seria o sentimento do membro em relação ao corpo que se foi? Como se sentiriam os ramos diante da árvore decepada ou os sentimentos das partes em relação ao todo? Minha mãe morreu, uni-me ao choro daqueles que também perderam suas mães; previ a dor dos que a perderão. Sentir-nos-emos fim sem começo, sem sabermos a quem dedicar a maior gratidão. Reconheçamos as preocupações e o trabalho que damos às mães; na caminhada da vida, somente a mãe sabe como pesa um filho. Tudo isso se prolonga nos netos, nos bisnetos, e a mãe jamais cansará de ser mãe... Se quantitativamente a grande perda é aquela das coisas que nunca tivemos, qualitativamente bem maior é a perda da mãe, único bem que sempre teremos...
|