Joseph Marie de Maistre, em 1796 havia escrito que: "Se um povo, de repente, se decidisse em bloco a não obedecer, terminaria a soberania. É impossível imaginar uma soberania, sem imaginar um povo que consente em obedecer". Infelizmente, quando vemos as massas nas ruas, não as vemos expressando algo espontaneamente. As vemos sim, seguindo um demagogo bastardo que lhes promete uma hipotética redenção material.

Mas, se a população decidir parar de portar-se como massa de manobra? E se, por um acaso do destino, as pessoas ao invés de procurarem salvadores da Pátria, de repente, procurassem elas próprias resolver pequenos problemas, integrando pequenos grupos, sem intenções gigantescas, apenas localmente, fazendo algo de significativo para aqueles que gritam em seu encalço ou mesmo, solucionando um problema que as aflige coletivamente, o que será que aconteceria?

Bem, o próprio pensador católico, De Maistre, nos responderia com as seguintes palavras, afirmando que se: "Ninguém manda, ninguém obedece. A máquina desmorona". Trocando em miúdos: é-se possível apenas falar em uma transformação positiva da sociedade quando não se fica em meio a balburdia de querê-la revolucioná-la, subvertê-la, pois, justamente quando mais se fala de algo, é justamente o momento em que menos vemos a presença do que está sendo evocado.

Não são os grandes grupos que transformarão a sociedade de maneira positiva. Não são os movimentos de massa que irão parir um mundo melhor, visto que, todo movimento de massa é irracional, insano, sedento por fazer justiça na vil forma da vingança.

Por isso, como bem nos lembra o já supra citado Joseph Marie, "na política como na mecânica, as teorias enganam, se não se leva em conta a diferença dos materiais de que são feitas as máquinas". Principalmente se não se levar em conta o material que forja o sonho e as intenções dos homens, que habita o âmago de seus corações.

E, nesse caso, os movimentos políticos de massa do século XX e que abundam o século XXI, ao nosso ver e pelas reflexões suscitadas por esse esquecido pensador francês, não seria o caminho mais indicado. Bem, ao invés disso, procuremos então sermos significativos para aqueles que nos rodeiam que, não em curto prazo, mas a médio e longo prazo, poderemos, quem sabe, ter uma sociedade um pouco melhor que a nossa.

E, se falharmos, pelo menos, em nosso microcosmo social, tornarmos possível o que era apenas um doce devaneio por dizermos não as pulsões das massas, á tirania da turba ignara e, por nos afirmarmos enquanto indivíduos humanos e por isso, superiores a qualquer coletividade bestializada pela sanha massificante que ergue e derruba tiranos em nome da Liberdade nunca alcançada, já será uma grande conquista.

De mais a mais, como bem nos adverte o Aposto (Epistola de Paulo a Tito III : 8 - 9): "[...] que os que crêem em Deus procurem ampliar-se em Boas obras; estas coisas são proveitosas aos homens. Mas não entregues em questões loucas [...]".

Mas, e quem disse que alguém quer ser advertido? Então que as tiranias se multipliquem pari passo com as tragédias e de mãos dadas com a "soberania" do povo desgarrado, sem pastor e junto da toca dos lobos.