Já estamos em meados de maio e ainda não ouvi a expressão Mês das Noivas. No entanto, durante muito tempo, o quinto mês do ano era considerado o mês do casamento e, portanto, das noivas - sobretudo num país católico como o Brasil: maio é também o mês de Maria (13 foi o dia de Nossa Senhora de Fátima, e 31 é o dia da Visitação de Nossa Senhora), e a identificação das moças com a mãe de Jesus certamente criava um clima propício para uma duradoura e feliz união. A propósito, se maio era o mês ideal, seu oposto sempre foi agosto: apenas 4 de cada cem casamentos são realizados neste mês. De novo, a razão é em parte religiosa: na Idade Média agosto era o mês usado para lembrar as virtudes do celibato (cada vez mais discutidas, aliás). E, no Brasil, era o "mês do cachorro louco", o período em que ocorriam mais casos de raiva canina e humana, doença perigosa, letal. Além disto, agosto é o meio do inverno: nem sempre o calor da paixão neutraliza o frio.

Estas coisas pesam, porque casamento é coisa rodeada de costumes e crendices. As flores dos buquês, por exemplo, eram um recado, como o caso do lírio, que simbolizava a pureza, e a rosa que homenageava o amor. E por que a noiva fica do lado esquerdo? O costume vem dos saxões: nesta posição, o noivo ficava com o braço direito livre para sacar a espada, em caso de ataque (dos inimigos, não da noiva). O uso da aliança vem do século 11; no início era colocada no terceiro dedo da mão esquerda - acreditava-se que nesse dedo havia uma veia que ia direto para o coração. A expressão "lua-de-mel" lembra uma bebida afrodisíaca usada pelos noivos (será que precisavam?), adoçada com mel, e assim por diante.

Mas as tradições mudam, e maio já não é o mês preferido dos noivos. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o mês campeão de casamentos é dezembro (99.169), o segundo preferido é setembro (72.767) e só em terceiro lugar vem maio (69.041). A explicação é simples e prosaica: em dezembro o trabalhador recebe o 13º salário; dezembro também antecipa as férias de verão, o que facilita a lua-de-mel. O lado prático predominou, numa época em que o casamento está inclusive em baixa.

Uma pergunta: por que maio é o Mês das Noivas e não o Mês dos Noivos, um plural masculino que, como de acordo com o costume semântico, poderia reunir ambos os sexos? Por que a noiva é uma figura muito mais significativa que o noivo. Isto era verdade sobretudo na época dos longos noivados. A moça ficava então numa espécie de hibernação emocional, esperando, em estado de graça e virgindade, o Grande Dia (e a Grande Noite). Ela era a Bela Adormecida, cuja paixão seria despertada pelo Príncipe Encantado. Às vezes isto não acontecia: a noiva abandonada pelo noivo é uma figura clássica na literatura, e, no passado, uma figura patética. Verdade que também isto mudou: ainda recentemente, a costureira mineira Nair Francisca de Oliveira, abandonada por Otacílio dos Reis depois de 17 anos de noivado, entrou com uma ação na justiça de Minas Gerais. O Tribunal de Alçada condenou o réu, de 54 anos, a pagar à ex-noiva uma indenização de 20 salários mínimos por danos morais. Ela receberá ainda 30% do valor da casa que os dois estavam construindo juntos, em Passos, sudoeste de Minas. "Estou cobrando pelo tempo que fui enganada", disse Nair, triunfante.

Realmente, as noivas mudaram. Ainda bem, não é?