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SEÇÃO
Crônicas
07/01/2016 - 15h00
No fim, comida a gosto
Damião Ramos Cavalcanti
 

Todas as cozinhas do mundo têm seus pratos típicos, as judaicas, as cristãs, e sobretudo as pagãs. Há quem comemore o Ano Novo com tais e tais comidas: peru ao forno, bacalhau a várias receitas. Nunca vi, na cultural Paraíba, alguém jantar canjica na entrada de ano, nem mesmo um cozido. Outras casas não dispensam um gostoso pernil de porco, como esses alimentos dessem sustança ao resto do ano. Valorizo tradicionais costumes, mas a comida apetitosa é aquela pedida pela vontade, não imposta pela festa. Que o diga "desejo de mulher grávida", exigindo do marido pitomba até fora de safra...

Os imperadores do Sacro Império, na véspera da coroação, achavam que certos pratos dariam energia a um bom reinado. Como na tradição germânica, Carlos III se deliciava com leitão cozido com mel da abadia franciscana. Prefiro bacalhau à carne enxuta do peru, ainda procurando boas receitas brasileiras, portuguesas, italianas, “brandadas” parisienses, adocicadas bretãs, cebolas recheadas com bacalhau picado e amêndoas do infante D. Henrique; enfim, o bacalhau “al ajoarriero das ventas castelhanas”, a gosto do sonhador Dom Quixote, também feito nos conventos beneditinos, onde se servia esse peixe com acelgas ou repolhos, refogado na carícia e aroma de um suave vinagre. Se com vinagre, jamais comido com vinho tinto, mas, com branco seco. Espalham os franceses que vinagre anula o sabor do vinho “rouge”. Um amigo, maître francês, recomendava, para o Ano Novo, filetes de bacalhau ao refinado champanhe.

Esse mundo dos “gourmets”, dos “cordons bleu” contrapõe-se a um pedaço da pátria que passa fome, apesar da "bolsa família", não há o que comer no último ou primeiro dia do ano. Pergunta-se aos sem comida se eles comemoram a passagem desse dia. Com fome, continuariam no ano velho, sem perceber o que passou. Não acreditam em mudanças de receita, nem de dias, nem de meses, tampouco de ano. A fome lhes dá a monotonia do tempo. Permanecem distantes, ouvindo as cantorias das janelas dos banquetes: “Adeus ano velho, feliz ano novo! (...) Muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender”. Porém, a pátria injustiçada vive um tempo que se repete, sem esperança, mesmo com os fogos de artifício do Ano Novo.

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