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SEÇÃO
Crônicas
08/01/2016 - 09h00
Ganho, perda e tragédia
José Eustáquio Ribeiro
 

Acho que a segunda maior tragédia porque pode passar uma pessoa é ter um filho. A primeira indiscutivelmente é perder uma cria. Não me levem a mal, não quero que leiam o que digo como cinismo, embora até aprecie o conforto que o cinismo traz à nossa experiência humana. Chamo de tragédia não a essa vida em berros, sim ao sentido grego dado à palavra. Qual seja, ser refém das armadilhas plantadas pelo destino, no nosso caso, como pensa Hannah Arendt, pelas coisas e necessidades impostas pelo mundo. Como esses imperativos criam conexões holísticas, um multi condicionamento entre as coisas, a primeira tragédia decorre justamente da segunda, i.e., é por ter filhos que existe a possibilidade de perdê-los. Fazemos tudo, até quase morrer, para que isso não ocorra. A possibilidade de que a maior tragédia ocorra só existe se ocorrer a segunda. Ter filhos sofre contaminação dos apelos trágicos pelas possibilidades trágicas que cria. Tendo filhos temos que conviver com esse possível, se vier a acontecer não tem outro jeito, é preciso aguentar. Fica sempre ali o fantasma no canto do telhado, dizendo "tome cuidado, isso pode acontecer!". Assim como Édipo-Rei, que sabia de seu destino, nós que nada sabemos saímos pelo resto da vida a tentar tudo para que o pior do possível não ocorra. Quase que vivemos para isso. Por isso, considero a maternidade e a paternidade como as experiências humanas mais difíceis e contínuas que existem. Eles nos absorvem e deixam tudo para o segundo plano. A não ser que a loucura nos invada ou adotemos um cinismo niilista calhorda. Talvez decorra daí o relevo que o poeta deu a elas no processo de realização humana. Quem não as conhece vive com um mínimo de possibilidade de tragédia humana. Ter filhos é imprescindível à nossa condição humana. Talvez, não, tenho certeza disso, não ter filhos é a terceira tragédia. Até nisso a vida dos não genitores é menos arriscada, mas também menos humana. Justamente por essa humanidade pela metade a não maternidade se transforma em um tipo de tragédia.

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