Estar verdadeiramente consciente acerca de um determinado problema exige do indivíduo não apenas a percepção imediata do agente específico que lhe perturba, mas também - e principalmente - das causas e conseqüências que dão a esse agente sua identidade única. Devemos, para tanto, entender a consciência de um problema não como o seu mero reconhecimento - sua percepção imediata, por assim dizer - mas como a dissecação deste último, de modo a entender seus mecanismos mais íntimos, sua coerência intrínseca que só pode ser alcançada quando mergulhamos na distância de suas origens, bem como na névoa de suas futuras conseqüências. Por conseguinte, há uma diferença fundamental entre a percepção de um problema e a consciência do mesmo, enquanto a primeira é limitada a um escopo de tempo e espaço que impede o indivíduo de agir claramente, podendo mesmo fazer com que este aumente a dimensão do mesmo na medida em que busca solucioná-lo, a consciência faz com que o indivíduo perceba um problema de modo tão claro que o possibilitará agir ou julgar uma alternativa de ação que não se torne apenas mais um agravante. Traduzindo-se tais conceitos para a realidade histórica, fica bastante claro o porquê de os movimentos revolucionários - essencialmente prometeicos, niilistas e estatólatras - sempre buscarem substituir a verdadeira consciência individual por uma teia de percepções forjadas com o único intuito de massificar os grupos sociais e esmagar a individualidade humana. Não há um teórico esquerdista que não busque determinar a priori o que vem a ser consciência, como ela atua nos movimentos sociais, e de que ela deve se constituir. Tal determinação, contudo, não obedece aos exemplos históricos ou às relações lógicas de causa e efeito. Quando Karl Marx resumiu a História da humanidade à eterna luta de classes, ele não buscou entender as civilizações passadas de modo a encontrar um fio condutor que despertasse à realidade presente; tampouco ele analisou os acontecimentos de sua época, tentando jogar uma luz, ainda que escassa, num futuro duvidoso; ele antes de tudo, se recusou a estudar o passado ou a ver o presente de forma objetiva, prevendo que esta seria a única forma de sustentar suas idéias alucinadas. Ao entender o estudo da História como uma função essencialmente determinista e revolucionária - onde todos já sabem onde quer se chegar e cujos eventos servem apenas para reforçar as idéias centrais e imutáveis - e ao falsificar em Das Kapital os dados relativos à melhoria das condições de vida dos trabalhadores britânicos para sustentar suas teses, Marx deixou claro que sua única preocupação era incutir uma falsa consciência nas massas miseráveis, através de uma cínica manipulação sensorial das percepções imediatas de seus "leitores". Não é preciso dizer que nunca na História da humanidade uma artimanha tão vil foi tão bem sucedida, a ponto de não apenas catalisar os ímpetos revolucionários da época dentro de um conceito amplo e esparso como o do socialismo-comunismo, mas também de criar uma força motriz que de tão poderosa não se verga jamais sobre o peso de suas próprias contradições. Quanto mais a História prova - através da miséria econômica, das ditaduras violentas, dos genocídios e das perseguições - que os "ideais sociais" que norteiam o pensamento esquerdista não passam de engodos bem elaborados para atrair as mentes menos rigorosas, mais tais idéias ganham prestígio, tornam-se algo especial, uma espécie de ponto de referência moral, especialmente para a maioria jovem que busca mudar o mundo sem ter que se responsabilizar pelas conseqüências de seus atos. Essa incapacidade de consciência é patente na sociedade brasileira, fruto maldito da marcha gramsciana, que possibilitou que terroristas, carniceiros, e toda laia de bandidos apoiados pelas piores ditaduras existentes na História da humanidade, quando derrotados pelas forças armadas no combate direto, se deslocassem para dentro do aparato do poder político de forma indireta, porém inexorável, ocupando as instituições sociais e democráticas e neutralizando-as através de uma atuação muito semelhante à de agentes causadores de imunodeficiências. Não há hoje instituição cultural no Brasil que não esteja, pelo menos, profundamente contaminada por essa falsa consciência implantada propositalmente de modo a destruí-las desde dentro. A mídia, as universidades, a Igreja e até mesmo a classe empresarial foram subjugadas sem que uma gota de sangue fosse derramada de forma direta, através de artimanhas como a ocupação de espaços, a guerra psicológica e a transformação do discurso vigente para adaptá-lo ao pensamento progressista e politicamente correto. Digo que sangue não foi derramado de forma direta, mas obviamente o número de vítimas fatais desse processo de coletivização forçada cresce assustadoramente. O sustentáculo de qualquer sociedade são os valores que lhe dão propósito e consistência, sua cultura e tradições, sua formação religiosa e moral, enfim, a história de seu povo na busca de um contrato social que transforme indivíduos esparsos em uma nação e esta nação em um estado soberano, sem que no entanto, se sacrifique a individualidade de cada um nesse processo. Um desafio interminável de em nome de a liberdade estabelecer-se uma eterna vigilância. Algo que não se constrói em décadas, mas em muitos séculos e que, todavia, pode ser destruído em curtíssimo espaço de tempo. A conseqüência da destruição deste processo se dá de muitas formas, mas especialmente através da banalização dos três direitos mais fundamentais do homem: à vida, à liberdade e à propriedade. Estes três pilares da civilização judaico-cristã vêm sendo cada vez mais usurpados dos brasileiros. A escalada da violência urbana tolerada por um estado de direito condizente com o caos e anarquia através de idéias absurdas como a de que a pobreza é geradora de violência, e portanto, esta última, deve ter alguma função social; fez de bandidos heróis, e acabou com a idéia seminal de que o crime é algo essencialmente hediondo e mau, não importando suas origens ou motivações, terminando assim por nos jogar mesmo numa virtual guerra civil, cujo número de baixas não deixa nada a desejar aos locais mais violentos e problemáticos do mundo. A também crescente violência no campo cada vez mais clama por vítimas. A pobreza de algumas vítimas de um sistema econômico ineficiente foi manipulada, criando-se essa organização bizarra que é o MST, liderada por guerrilheiros e terroristas, cujo principal propósito não é a solução dos problemas econômicos do campo, mas o estabelecimento do completo caos socialista, da própria destruição de um dos sustentáculos de nossa já frágil economia. A violência urbana e rural, aliada a destruição da cultura nacional, do livre debate e da sadia alternância de poderes contribui para a destruição das liberdades individuais. Terá sido mera coincidência o governo petista ter já tentado criar órgãos de controle da imprensa? Terá sido algo sem importância o fato deste governo ter buscado calar a pesquisa impondo censura à divulgação dos dados do IBGE? E a cartilha politicamente correta, será que ela não deveria ser o início de uma censura real e totalitária, como nunca antes vimos em nossa sociedade? O fato é que, sob o auspício de uma imprensa partidária, um mercado editorial medíocre e um exército de "intelectuais" engajados na luta em prol da ignorância, a censura às nossas liberdades já estão bem implantadas. A livre expressão de idéias só encontra terreno fértil através da Internet e mesmo assim nosso governo já deixou claro através de seu íntimo contato com tiranos e ditadores, que essa "liberdade virtual" também está ameaçada. Com a vida humana banalizada e a liberdade reduzida a frangalhos, a propriedade privada passa a ser um alvo fácil. Nessa altura das coisas, quando um juiz afirma que há legalidade na invasão e destruição de uma fazenda porque seu proprietário não conseguiu provar a função social da mesma e tamanho absurdo passa quase que despercebido na mídia e nos debates acadêmicos, sendo mesmo considerado por alguns como uma grande vitória, é dado o sinal de que o caminho já é praticamente sem volta. Quanto tempo até que essa jurisprudência macabra torne-se a norma operante, dando às vítimas dos crimes e da violência a carapuça de algozes? Gramsci em sua obra reconheceu que a revolução cultural, em seu estágio avançado, poderia gerar imensa onda de violência devido ao ruir da estrutura formal de poder e à desconstituição do senso comum. O que são os brasileiros hoje, senão ratos de laboratório nessa experiência trágica? Já provamos que a tomada de poder deve ocorrer a partir da sociedade civil e não da estrutura do estado, como dizia Gramsci; já provamos que a queda da ordem social vigente gera violência e opressão, como dizia Gramsci; e, por fim, iremos provar que essa revolução socialista não é em nada melhor do que as outras, que a pobreza não será combatida, as desigualdades serão apenas exacerbadas, e a esperança enterrada num mar de medo, como Gramsci jamais conseguiu enxergar, agrilhoado à idéia do Estado-partido no papel do príncipe moderno. E no final de tudo, quando a falsa consciência já não sustentar mais a mentira que a gerou, restará às suas maiores vítimas - aos inocentes úteis que carregam nas costas o peso amargo de todas as revoluções - relembrarem os Versos Íntimos do poeta paraibano Augusto dos Anjos, e se dar conta, que tais versos se tornaram o reflexo das utopias desvairadas que nunca foram realmente suas: Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Enterro da tua última quimera. Somente a Ingratidão - esta pantera Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! Nota do Editor: João Costa é bacharel em ciências administrativas e especialista em relações internacionais.
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