O novo século começou, há cinco anos, da forma como acabou o precedente. Ou seja, com guerras (em especial no Afeganistão, no Oriente Médio e no Iraque), conflitos sociais, ações terroristas (que culminariam com o bárbaro atentado de 11 de setembro de 2001, que causou a destruição das torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York e matou cerca de duas mil pessoas), gerando angústias, multiplicando sofrimentos, cristalizando injustiças e protagonizando tudo o que torna a existência tensa, dolorosa, frustrante e ameaçadora. Compete-nos, como jornalistas, trazer à baila essas nefastas circunstâncias, numa crônica de horror em que se transformou a nossa atividade cotidiana. Afinal, este é o nosso papel. Fugirmos dele equivale a nos alienarmos da dura realidade e, pior, alienar os que se valem do nosso trabalho para se inteirar do que ocorre ao seu redor. A esperança de surgimento de nova era, de paz e de prosperidade para a maioria, manifestada com tanto entusiasmo e euforia na virada de 1999 para 2000 (embora o novo século tenha começado, de fato, em 2001), aos poucos cede lugar à dura realidade. Está dando, portanto, a inflexível lógica. E a morte de Yasser Arafat e, principalmente, a reeleição de George W. Bush, não dão perspectivas alentadoras de alteração para melhor desse quadro. As mudanças de comportamento e de idéias, necessárias e indispensáveis, com que todos sonhamos, não surgem, é óbvio, do nada, como num passe de mágica. Têm que ser construídas, passo a passo, por todos nós: imprensa, Poder Público e sociedade. Não, claro, por um único líder, ou um pequeno grupo deles. Por todos, indistintamente, não importa o teor e o tanto de contribuição individual que venhamos a dar. E é aí que reside o problema: na diversidade dos interesses, e na mentalidade egoísta que caracteriza, em maior ou menor medida, o ser humano. Os anseios e expectativas da atual geração sequer são originais e exclusivos. São, guardadas as diferenças de condições materiais e espirituais, os mesmos que caracterizaram as viradas dos séculos anteriores, desde os primórdios da civilização. Não se pode negar que, em alguns aspectos, a humanidade evoluiu, e muito, especialmente nos últimos 200 anos. Noutros, todavia... Há quem atribua ao acaso, que muitos preferem chamar de "sorte", o ritmo dos acontecimentos. Sou daqueles que não crêem em determinismo, naquilo que se convencionou chamar de "destino" e que entendem que o homem, dotado de livre arbítrio, é quem escolhe o seu caminho, para o bem, ou para o mal. Se tem oportunidades de se informar, de se instruir, de exercitar e desenvolver seus talentos, conta com grandes chances de conseguir o que quer. Certeza jamais possui. Caso contrário... suas possibilidades de êxito são sumamente restritas, para não dizer impossíveis. Há quem creia, piamente, que cada ato nosso (sem qualquer exceção), do nascimento até a morte (inclusive a ocasião e a forma desta), cada pensamento, cada sentimento e cada reação, estão inflexivelmente determinados por um ser superior. O engraçado é que essas pessoas dizem acreditar em Deus. Que divindade tirana é essa que faz de cada indivíduo marionete, que manipula ao seu bel prazer? Esse tipo de raciocínio chega a ser para lá de insensato, e até sacrílego. Nega a bondade e a justiça de Deus. Isenta o homem de responsabilidade pelos seus erros, desvios e inclinações para o mal, que seriam, na verdade (para quem pensa assim), o seu "destino". Há algum tempo, uma leitora das crônicas que publico, semanalmente, em um portal internacional da Internet, questionou um texto meu em que atribuo ao acaso (ou dêem o nome que quiserem ao fortuito e imprevisível) a dinâmica dos acontecimentos. Escreveu: "Querer resumir a complexidade do universo, as leis de causa e efeito, a apenas a mão do acaso, com todo o respeito, parece triste, vazio, beirando o desespero". Afirmo o mesmo, todavia, em relação ao determinismo, ao célebre "maktub" (estava escrito), que nos sonega qualquer possibilidade de orientar nossas vidas, nos tornando joguetes de um hipotético, sumamente injusto, e cruel, "destino". Escreve mais a querida leitora: "Acreditar que todos acontecimentos da vida sejam por acaso, seria como acreditar que somos marionetes do nada. Que do nada viemos e para o nada tornaremos. Isso soa tão vazio, tão oco, tão desesperançado". Retruco, no entanto, que negar que o homem seja dotado do livre arbítrio, da capacidade de escolha entre o bem e o mal e da prerrogativa de poder construir, com o próprio esforço, uma vida melhor e mais digna para si e seus filhos (e de contribuir, com importante parcela, para o avanço da civilização); atribuir todo o sofrimento e toda a maldade do mundo a um inflexível determinismo, que nada e ninguém possam mudar, isto sim é abrir mão da esperança. É negar o senso de justiça e a infinita bondade de Deus (ou seja qual for o nome que se queira dar a essa força superior, certamente inteligente, que rege o Universo). É o cúmulo do desespero! Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista e escritor.
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