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Medicina e Saúde
08/02/2016 - 12h11
A dispersão do vírus Zika
Adriano Mondini
 

O “Protocolo de vigilância e resposta à ocorrência de microcefalia relacionada à infecção pelo vírus Zika”, do Ministério da Saúde trouxe projeções alarmantes quanto à dispersão do vírus no final do ano passado. O documento afirma que, pelo menos, 400 mil infecções ocorreram em 18 estados da União em 2015. A projeção mais pessimista aponta 1,4 milhão de casos. As estatísticas foram baseadas em casos de dengue descartados e dados da literatura científica internacional. Obviamente, haverá projeções mais precisas em breve, mas a dispersão do Zika é, sem sombra de dúvidas, impressionante.

A explicação de como um vírus transmissível por mosquitos se dispersa no meio ambiente nunca é simples. Vários fatores estão envolvidos no estabelecimento e manutenção da epidemia. No caso do Zika, a existência do mosquito Aedes aegypti e a circulação do vírus são elementos centrais. No entanto, é necessário que o mosquito tenha habilidade de se infectar com o vírus, multiplicá-lo e transmiti-lo. Quanto mais rápida for a multiplicação viral no mosquito, maior será sua capacidade em ser um transmissor. Quanto maior a infestação, maior será a dispersão.

A informação genética do vírus também tem um papel indiscutível no cenário epidêmico. Pequenas variações podem, além de facilitar a infecção do mosquito, gerar uma doença com sintomas mais pronunciados no homem. A velocidade da multiplicação do vírus no hospedeiro humano também é preponderante na sua dispersão. Quanto mais partículas virais na circulação sanguínea, maiores as chances do vírus infectar o mosquito transmissor. Aliás, para que um vírus se instale em um determinado local, é necessário que haja indivíduos suscetíveis à infecção, exatamente como se encontra a população brasileira para o Zika atualmente.

Além dos fatores biológicos, cabe traçar um panorama da distribuição do Aedes aegypti no Brasil para entender a dispersão do Zika. Uma das ferramentas que o Ministério da Saúde dispõe para conhecer a infestação no país é o Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa), que estratifica as cidades para o risco de epidemias a partir da identificação de larvas numa amostra representativa de edificações do município. Dados oficiais do LIRAa de 2015 colocaram 199 municípios em situação de risco e outros 655 em alerta. Entretanto, apenas 1792 cidades realizaram o levantamento, aproximadamente 32% dos 5565 municípios cadastrados pelo IBGE. A extrapolação dos resultados desse levantamento colocaria aproximadamente metade dos municípios brasileiros em situação de alerta ou risco. A questão da dispersão do Zika estava mais para quando - e não se - iria acontecer no País.

Por fim, soma-se ao panorama, a não utilização de métodos diagnósticos mais assertivos nas atividades de rotina. Profissionais de saúde que dispõem de recursos diagnósticos de ponta conseguem identificar com maior precisão qual o agente causador da doença febril, o que impacta diretamente o manejo do cuidado ao paciente. No caso de vírus como o Zika, desencadeará, também, atividades de controle vetorial, que são imprescindíveis para conter a dispersão de mosquitos transmissores.

Cabe, à comunidade científica, entender as relações biológicas que ocasionaram a dispersão tão rápida do vírus e como a infecção pelo Zika pode estar associada a casos de microcefalia e Síndrome de Guillain-Barré. Entretanto, a forma como se deu a instalação e a dispersão da epidemia de Zika deve servir como subsídio para a revisão das atividades de vigilância epidemiológica no Brasil. Parece premente uma alteração do “modus operandi” atual, baseado amplamente em atividades de controle de vetor. As autoridades competentes precisam instaurar, urgentemente, a vigilância viral rotineira de casos febris, com metodologias diagnósticas de ponta, aplicar mecanismos de promoção de uma política diferenciada de notificação de casos febris e investir em ações de enfrentamento mais austeras para evitar quadros semelhantes no futuro. A discussão já é ultrapassada. A mudança, urgente!


Nota do Editor: Adriano Mondini é professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp de Araraquara.

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