Ainda não se sabe como o Dr Samuel Pinheiro Guimarães e o senhor Marco Aurélio Garcia não embutiram no atual giro presidencial de Lula da Silva à Asia uma escala em Pyongyang. Como esse pessoal do Itamaraty adora ditadores e afins, parece estranho nosso presidente não desembarcar na capital norte-coreana, endereço do Líder Querido, Kim Jong-Il, pelo menos para dar uma olhada nos festivais da Primavera que por estes tempos ocorrem por lá. Trata-se do maior espetáculo de massas da Terra, coisa que deixa Fidel e suas passeatas no chinelo. Mas os tempos são de ilusão, brumas e enganos. Filho do Grande Líder, Kim Il Sung, Jong Il é o tipo de gente que adoraria receber os aliados de Castro, de Hugo Chávez e do governo vietnamita. Mas a não inclusão dos vizinhos comunistas de Seul no roteiro pode ter uma razão estratégica. Eles fingem que, para eles, o regime comunista dos norte-coreanos é muito radical e a imprensa não finge que acredita. Acredita mesmo. Por isso, Pyongyang ficará para a próxima. O chato é que os espiões do norte que bisbilhotam tudo o que acontece no sul ficarão desapontados com as recentes palavras de Lula. Vão achar que o companheiro anda mesmo em direção ao centro democrático, como bota fé a Tereza Cruvinel. É que, para ampliar a ilusão de que somos bons amantes da democracia, Lula da Silva disse nesta terça em Seul, na "Coréia do Bem", que a democracia, a liberdade de imprensa e a tal da "cidadania participativa" são as melhores ferramentas para combater a corrupção. Isso é o mesmo que dizer que países como Cuba ou a "Coréia do Mal" são o cúmulo da roubalheira. Afinal, ambos são regimes fechadíssimos em que a liberdade de imprensa é uma miragem. Mas o Brasil do PT, sabemos nós, apóia tanto Havana quanto a Venezuela de Hugo Chávez, o novo comandante que está sufocando o jornalismo independente em seu país. As palavras de Lula em seminário da ONU, portanto, tem a solidez de uma "kingjongilia", a magnólia norte-coreana cultivada em homenagem ao Líder Querido. Nessa história de ser autêntico, portanto, fico com o Chávez: nosso segundo aliado caribenho, caso lá estivesse, não só diria o que pensa como jamais deixaria de render homenagens perante o túmulo de Kim Il Sung na orwelliana Pyongyang. Nota do Editor: Sandro Guidalli, 38 anos, nasceu em Lages, principal município da serra catarinense a 200 quilômetros de Florianópolis. É jornalista desde 1989, tendo prestado serviços para inúmeros jornais e publicações do país, entre eles a Folha de S. Paulo e O Globo. Foi editor do Mídia Sem Máscara entre fevereiro e julho de 2003. Depois de residir por dez anos no Rio de Janeiro, mora em Balneário Camboriú (SC).
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