Um “feirão” está funcionando no Congresso Nacional. Deputados aproveitam a janela que os permite mudar de partido até o dia 18 de março, sem perder o mandato, e negociam o passe. Barganham cargos e falam em ofertas de até R$ 2 milhões pela filiação de um novo parlamentar. Estima-se que, por esse processo, pelo menos 10% dos 513 deputados federais estarão de partido novo. É, sem dúvida, um show de fisiologismo que demonstra a razão da pouca importância das agremiações partidárias. O mais grave é que esse indigesto mercado também está instalado nas Assembléias Legislativas das 27 unidades federativas (estados e distrito federal) e nas Câmaras dos 5.570 municípios brasileiros. A janela que suspende o instituto da fidelidade partidária enseja a negociação espúria, onde o parlamentar é cooptado a, em troca de vantagens, trair a confiança daqueles que nele votaram. Oposicionistas tornam-se situacionistas e vice-versa, tudo ao sabor de interesses que não são o do eleitor, mas da elite política que governa com desprezo àquilo que o povo pensa ou quer. Quando a negociação ocorre apenas com cargos dentro das próprias casas legislativas ou nos partidos, o problema é menor. Mas no momento em que parlamentares são pagos com cargos no Poder Executivo, está configurada a imoral (até ilegal) interferência de um poder no outro poder. No momento em que entram recursos financeiros, aí, então, a corrupção é declarada. De onde vêm os recursos para pagar R$ 2 milhões pela mudança partidária de um deputado federal? É preciso saber se esse dinheiro não é de propinas, achaques ao cofre público ou de qualquer outra fonte criminosa. O crime – não importa sua modalidade – jamais poderá financiar as atividades políticas, pois isso destrói o país e a democracia. Lamentavelmente, o sistema de coalizão pós-eleitoral e cooptação dos integrantes das minorias está tão arraigado na vida política nacional e a simples possibilidade de reacomodação daqueles que estão desconfortáveis em seus partidos, acaba se transformando em negócio ou negociata. É preciso encontrar uma forma de vida própria aos partidos políticos e acabar com o vício daqueles que ganham as eleições e, em vez de simplesmente governar, lançam-se à ação de comprar o apoio dos que o povo escolheu para ser oposição. Há que se desmontar o balcão de negócios... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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