Há insetos enormes que logo se diferenciam dos insetos aparentemente inofensivos. Nos tempos de infância, a muriçoca nos causava insônia; antes de picar, zunia nos nossos ouvidos como se estivesse a zombar da nossa defesa: fechado mosqueteiro de filó. Não sei como ultrapassavam lençóis e cobertores e resistiam à bomba de inseticida, que a atacava do telhado ao chão; o cheiro do veneno ofendia mais a criança do que o mosquito. Houve avanço: As muriçocas diminuíram... De repente, os mosquitos voltaram com outras armas. Diferente, agora o mosquito "turbinado" veio para mexer com a paz do mundo, bulindo até com mandatários de grandes potências. Razão: ataca gente de qualquer camada social e prejudica os que ainda não nasceram, causando-lhes microcefalia, caixas cranianas reduzidas ao desenvolvimento do cérebro, a maior número de neurônios. O então mosquito da dengue é agora o terrificante mosquito da zika. O medo substituiu a "bomba de inseticida" pelas forças armadas contra legiões de mosquitos. Ainda não ganhamos a guerra, a estratégia é evitar larvas em poças d'água ou em jarros do jardim. Impressionante é não combaterem assim mosquito maior do que o besouro: a fome que mata milhares de crianças, impedindo as sobreviventes terem cérebro desenvolvido, serem a inteligência do país. A "bolsa família" tem sido remédio provisório a esse desarranjo social, consequente do desemprego, dos baixos salários... Triste é que ainda medram grotescos raciocínios sobre essa realidade político-social : "A bolsa família serve para preguiçoso deixar de trabalhar..." Quando as crianças dessa gente, nutridas, constituirão gerações mais inteligentes. Fome é pior do que zika; preocupa menos porque atinge apenas desfavorecidos e não insensíveis a esses problemas sociais.
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