Visitei outrora uma cidade do litoral que poderia ser chamada de "Cidade dos Carneiros". A população se assemelhava a uma manada de ovinos obedecendo sem contestar ou questionar ao pastor e a seu cão. O pastor era o prefeito e o cão o conjunto de seus auxiliares mais próximos. Uma vez eleito o "condutor" começava a distribuir "portarias estratégicas". Primeiramente comprava a imprensa. Depois, os oposicionistas eram calados com cargos e vantagens. Foi assim durante muito tempo, até chegar o século XXI. De repente, num momento de descuido, quando a sucessão parecia definida e tudo permaneceria igual, deu zebra. Entrou em cena o inesperado, o novo, se bem que nem tão inesperado e nem tão novo assim. Ainda não se pode afirmar nada sobre a novidade, no entanto esta parece imbuída de seriedade no trato da coisa pública. É um bom começo. A cidade está de olho, torcendo para que dê certo, dando um crédito de confiança. O que é notório é que muitos dos que vociferam contra os inúmeros desmandos que há, foram ontem coniventes com a implantação destes. Quanto à probidade dos homens que comandam a cidade, há uma pergunta que os ruminantes não gostam de responder. Com os proventos de prefeito dá para enriquecer? Obviamente não dá. Qualquer executivo médio de São Paulo ganha mais do que o prefeito da cidade litorânea. E nem por isso é rico. No entanto, na tal cidade é voz corrente que um conhecido político tem muito dinheiro, é milionário. Sem nunca ter sido empresário, recebido herança ou casado bem, como amealhou a fortuna alardeada? Tendo enriquecido com os parcos salários da política, deveria ser alçado à condição de ministro da Fazenda. Salvaria o Brasil dos credores. Pode ser que tenha ganhado na loteria, como fez um dos anões do orçamento de Collor. O que não dá para assistir passivamente é uma cidade mostrando o traseiro e lambendo os pés de indivíduos que enriquecem as custas do erário público. Eu tive o desprazer de ver pessoalmente empresários nessa atitude pouco digna. Será que também queriam levar vantagem? Ou puxar o saco é um esporte? A cidade litorânea poderia também ser chamada de terra do Gerson. Do Gerson e dos carneiros espertos. Ainda bem que vivo em Ubatuba onde nada disso acontece, a imprensa é séria e a população atenta. E ninguém quer levar vantagem, além do Gerson*. * Ex-jogador de futebol e fumante.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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