(1) O homem moderno vive com medo; o modernoso homem vive a caminhar, sem parar, num passo ansioso. Medo esse que lhe aconselha a levar demasiadamente a sério tudo aquilo lhe angustia. Aflição essa que o agrilhoa a todos os seus temores imaginários. (2) Tudo é uma questão de hábito, seja a boemia ou o trabalho duro. Em tudo há uma questão de método, seja na depravação ou na dignificação. Em tudo isso, entre os hábitos e os métodos, há uma finalidade que dá sentido ao que está sendo feito. Finalidade essa que pode ser determinada por nós, de maneira autoconsciente, ou que é determinada a nós por alguém, ou por algo, que se aproveita de nossa leviana inconsciência. (3) O antecedente irrefletido gera sempre um consequente insensato. (4) Fazer algo simplesmente por fazer é o mesmo que viver sem necessariamente precisar ter nascido. (5) Simpatia exagerada é tão inconveniente quanto à animosidade rotineira. Uma e outra são apenas formas tolas de dissimulação. (6) É incrível como agimos com base na mais desatinada das incertezas. O dito “vai que dá certo...” é a marca geral de nossa época onde ariscamos tudo com base no mais tonto frenesi, no calor das epidérmicas emoções do momento. Colocamos tudo e todos em risco com base nos mais estapafúrdios palpites. Nossa! E como fazemos isso. É muita irresponsabilidade para uma época só. Muita mesmo. Também, fazer o que? Não se pode esperar muita coisa de uma sociedade (de)formada por uma massa de pessoas nominalmente maduras que não é capaz de reconhecer a sua condição gritante de adolescente mais que tardio. Ou devemos? (7) A sociedade contemporânea, de certa forma, emoldura o nosso olhar para que sejamos capazes apenas de contemplar a mediocridade reinante e nada mais, como se ela fosse a única possibilidade crível de realização para uma vida humana, deixando-nos enredados numa teia infernal formada por exemplos vis. Por isso, quando temos diante de nossas vistas a imagem duma grandeza moral, desprezamo-la como se ela fosse uma personagem fantástica dum conto infantil qualquer, mas jamais a vemos como algo real e tangível, tamanha a soberba da parvidade que se assenhora do nosso olhar. (8) Os ritos de passagem, nas sociedades tribais, delimitavam, com relativa clareza, a fronteira entre um e outro estágio da vida humana; de maneira especial entre a meninice e a maturidade. Nesses ritos, matava-se simbolicamente a criança para que o adulto pudesse vir ao mundo e, desse modo, reforçar os compromissos do jovem para com os membros de sua tribo. Nas sociedades modernosas como a nossa não se veem mais, oficialmente, a prática de tais quinquilharias museológicas. Todavia, nas sombras da vida social temos a prática de certos “ritos” que, ao seu modo, demarcam o fim da criancice e o início de uma adolescência tardia travestida de maturidade. Esses ritos, em regra, consistem na prática desmedida de bebedeiras, orgias sexuais e coisas do gênero. Práticas essas que sinalizam não a investidura no indivíduo das responsabilidades cabidas a um adulto frente a sua comunidade, mas sim, festeja-se alucinadamente o contrário disso. (9) Quando a irresponsabilidade petulante torna-se a medida de todas as coisas, a vida política converte-se na mais vil barbárie e a vida em sociedade um perambular anômico dum nada para lugar nenhum. (10) Em tudo há necessidade do cultivo dum mínimo de formalidade. Quando essa se torna excessiva, a existência perde sua vivacidade natural. Quando essa se faz inexistente a vida perde todo e qualquer sentido existencial. (11) Onde inexiste o sentido de missão a ser cumprida, toda e qualquer vocação fenece e da vida vê-se suprimida. (12) A grande tragédia do Brasil atual é que todos sabem que o país está maltratado; porém, a maioria nem imagina o quanto, de fato, o nosso país está estropiado.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
|