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COLUNISTA
Marcelo Sguassábia
20/06/2016 - 07h33
Cabelos ao vento
 
 

Nem todo mundo sabe, mas o cabelo, se bem conservado, é eterno (não se animem os carecas, a eternidade é do dito cujo fora da cabeça, e não em cima dela). Pura proteína, pode manter-se intacto com o passar dos séculos, mesmo debaixo da terra e exposto aos vermes. Mais: tanto o cabelo quanto as unhas continuam crescendo após o sepultamento, por períodos que variam de organismo para organismo. Melhor dizendo, de cadáver para cadáver.

Com apogeu no século 19, o hábito de guardar mechas de cabelo vem da Grécia antiga. O mais comum era acondicionar em caixinhas, envelopes ou no interior de camafeus um cacho do primeiro corte ou do último, já da pessoa defunta, como recordação. Namorados também enviavam madeixas às suas caras metades, para diminuir saudades e distâncias. Enfim, era uma relíquia sem prazo de validade que entes queridos presenteavam-se mutuamente, e que literalmente significava ter a posse de um pedaço da pessoa.

Alguns, mais espertos, tinham acesso a defuntos ilustres e, disfarçadamente, davam um jeito de surrupiar um ou outro cacho para legar à posteridade. Visando, obviamente, fazer dinheiro com isso no futuro.

Viena, 2014, em uma casa de leilões.

Separados em suas respectivas mechas e divididos por área de notabilidade - políticos, presidentes da república, reis, cientistas, músicos, escritores e filósofos, os cabelos aguardavam os novos donos, que os arrematariam em lances milionários. Dentre outros, ali estavam amostras capilares de George Washington, Chopin, Napoleão Bonaparte, Nietzche, Mozart, Oscar Wilde, Mussolini, Einstein e Picasso.

Então o improvável e espetacular desastre se deu, por conta de uma reles veneziana com o trinco enguiçado. Um vento encanado e pronto: as mechas todas em redemoinho, para sempre misturadas.

- Gente, e agora? Leilão marcado... Para saber que cabelo é de quem nós temos que enviar, fio por fio, à análise de DNA. Precisamos de novas certificações de autenticidade.

- Com resultados prontos até depois de amanhã? Tá fácil, hein. Estamos perdidos.

- Tanto melhor! Os cabelos são todos de grandes gênios da humanidade, não são? Quem arrematar a mecha do Oscar Wilde, por exemplo, vai levar cabelos de um monte de outras celebridades. Sem pagar nada mais por isso! Um grande negócio.

- Tá bom. Aí o dono do chumaço resolve fazer um DNA, para saber se o cabelo que ele comprou é o mesmo que ele levou...

- Repito: vai perceber que está na vantagem. Se fizer o DNA dos outros fios, terá uma grata e bombástica surpresa. Vai descobrir que possui metade da Enciclopédia Britânica em forma de cabelo.

- Vamos perder credibilidade como casa de leilões...

- Bom, a rigor, se alguém contestar, o problema é do laboratório que deu o laudo do DNA. Podemos falar que a culpa é deles, e nunca ninguém ficará sabendo desse acidente do vento entrando pela janela.

- Canalhice, velhacaria. Muito mau-caratismo para o meu gosto. A culpa foi do vento, temos que assumir isso...

- E perder milhões, cancelando o leilão?

A portas (e venezianas) trancadas, fizeram um pacto de cumplicidade e silêncio. Vararam noite e madrugada juntando cabelos em mechas que se assemelhavam pela cor. Todas as relíquias foram arrematadas. Nunca ninguém contestou a autenticidade delas.


Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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