Primeira morte: PC Farias foi assassinado pela amante, Suzana. Segunda morte: Não foi assim. Ambos foram assassinados. Terceira morte: O cenário do crime foi montado de maneira a corroborar a tese de assassinato seguido de suicídio. Ninguém sabe quem mexeu no quarto. Havia quatro seguranças – ex-policiais – na casa. Quarta morte: Com os corpos ainda quentes sobre a cama, sem nenhuma perícia ainda sequer iniciada, o secretário da Justiça, Rubens Quintela, e o delegado Cícero Torres informavam para a imprensa que se tratava de crime passional. Quinta morte: A autópsia do corpo foi feita com uma faca de cozinha; as mãos de Suzana foram lavadas com água mineral, cheia de elementos químicos capazes de alterar os exames para encontrar pólvora. Nenhum dos seguranças fez exame igual. Sexta morte: Não havia nenhuma digital no revólver. Teria Suzana atirado contra o próprio peito e limpado a arma antes de morrer? Sétima morte: Para que a trajetória das balas tivesse relação adequada, Suzana deveria estar voando quando disparou contra PC Faria. Oitava morte: Exames nas vísceras de Suzana mostraram que ela morreu de três a cinco horas depois de PC. Nona morte: Três dos quatro seguranças são levados a júri popular 17 anos depois do assassinado. São absolvidos, embora o júri afirmasse ter ocorrido homicídio. Décima morte: PC Farias prometera entregar nomes e fatos à CPI das empreiteiras, naquela semana. Morreu antes. Os empreiteiros respiraram aliviados. Havia muito trabalho a fazer com os novos presidentes e seus tesoureiros... Nota do Editor: Daniel Medeiros é Doutor em Educação pela UFPR e professor de História do Brasil no Curso Positivo.
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