Sempre tive um pé atrás em relação às pessoas metidas a ricas e religiosas em excesso. Esses riquinhos de marré-marré e santinhos do pau oco me irritam. Coisa minha, idiossincrasia (adoro essa palavra). Sou radical na minha ojeriza a esse pessoal. Vou contar dois fatos ocorridos com um mesmo casal de chatos. O primeiro: minha saudosa mãe morava com minha irmã pertinho do Náutico, enquanto eu morava no Espinheiro. Todo santo dia eu saía a pé para visitá-la, não era longe e eu adorava fazer aquela caminhada. Fosse inverno ou verão. Um dia, quando passava na frente da Matriz do Espinheiro, um cara me abordou, um sujeito que sempre me pedia uns trocados dando a mesma desculpa: dizia que tinha vindo de Timbaúba para uma consulta com um médico e estava sem todo o dinheiro da passagem de volta, me pedia um trocado para inteirar a passagem. Eu sempre lhe dava um real ou dois reais, mesmo desconfiando que era um golpe. Bom, naquele dia, quando botei a mão no bolso, vinha saindo um casal da Igreja, notei logo que a mulher era chata e braba, enquanto o marido era um típico barriga branca. Antes que eu sacasse o dinheiro do bolso ela gritou raivosa: - Não dê dinheiro a esse vigarista, isso é um safado, preguiçoso, um golpista. Mande ele trabalhar. Me admira o senhor querer alimentar o vício desse vagabundo. O pobre golpista baixou a cabeça, o marido da dona também, acho que meio envergonhado do chilique da mulher. Deixei ela completar o esculacho e então disse: - Olha, dona, não entendo a religião da senhora, saiu agora mesmo da Igreja e comete uma falta de caridade e de educação. Que é que a senhora tem a ver com a minha vida e se eu dou ou não dou uma ajuda a esse homem? Engasgou com a hóstia, está com raiva de algo? Meta-se com a sua vida. E puxei uma nota de cinco reais e dei ao golpista de Timbaúba. Ela deu uma rabisca e foi embora enquanto gaguejou uma desculpa. O segundo fato com o mesmo casal: eu vinha no mesmo trajeto, desta feita acompanhado do grande radialista pernambucano Rossini Moura, uma das mais belas vozes do rádio pernambucano, arcoverdense como eu, já falecido. Ele queria fazer uma visita a minha mãe a minha irmã que não via há mais de 20 anos. Rossini era fumante inveterado, vinha pitando o seu Hollywood, quando chegamos exatamente na frente da Igreja, eis que o mesmo casal vinha saindo da Matriz. A mulher quando viu Rossini fumando não se aguentou, parou o cara e disse: - O senhor não tem vergonha? Um homem de cabelos brancos e fumando no meio da rua, dando péssimo exemplo aos jovens? O senhor devia tomar vergonha na cara e largar esse vício maldito. Rossini era um cara educadíssimo, mas não aturava lições de moral de chatos. Deu uma tragada e disse à megera: - Eu tenho certeza que a senhora é uma mal amada, uma infeliz, uma metida a santa que é falsa moralista. A senhora não tem nada a ver se eu fumo ou não fumo, é problema meu. Sabe do que é que a senhora precisa, pelo seu jeito seu marido não é bom de pegada, você precisa é de... Deu aquele mesmo conselho de Boechat ao pastor. A dona fez o sinal da cruz e arrancou seguida pelo barriga branca que devia ser mesmo ruim de pegada e barriga branca. Mas a verdade é que Rossini morreu devido ao cigarro. Inté.
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