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Opinião
14/07/2016 - 07h21
Entre documentário e jornalismo
Celso Bodstein
 
A formação universitária do jornalista é necessária para qualificar as narrativas do cotidiano

Qual a relação de fidelidade que um documentário mantém com a realidade que o suporta? Produzir um documentário é buscar uma “essência” dos nós sociais, “dando luz” a uma verdade ainda obscura? Ou essa verdade nada mais é do que um ponto de vista legitimado por discursos visuais convincentes? Quanto tem de ficção no documentário? Será que um certo realismo é capaz de ludibriar nossos sentidos de percepção?

O fato é que são questões de difícil travessia e por isso o assunto é forte na formação acadêmica do jornalista. Tal formação é motivada pela constatação de que vivemos uma espécie de era de ouro do documentário. Eles estão em mostras, festivais, em coletâneas, em canais variados na internet - especialmente no YouTube - no cinema e muito, muito na televisão fechada. Na aberta é alavancador de audiência massiva.

Motivos? Os documentários dão densidades discursivas ao jornalismo, à arte, à natureza, ao comportamento social, à política, aos mundos invisíveis e aos personagens incertos. Marca mazelas e delícias de se viver o contemporâneo. Tal gênero, podemos pensar assim, produz efeitos de sínteses culturais acerca de quem somos no contexto que herdamos e reconstruímos para asseverar nossa existência.

De outra forma: há filmes, programas de variedades e... documentários. E em proporções idênticas. No Brasil o gênero oferece mercado que se constitui principalmente através da produção independente - já que as tecnologias em vigor encurtam orçamentos. Portanto, há que se pensar em bons jornalistas para fazer frente a essa demanda.

O jornalismo entrou no campo do documentário pedindo licença ao cinema, de quem vem reelaborando estéticas - e à antropologia, a quem toma emprestado certas convicções da abordagem etnográfica, como a construção refinada de alteridades. Daí para frente, o documentário jornalístico serviu-se do veio próprio para se instalar no imaginário coletivo.

No ambiente universitário o jornalista-documentarista reflete e aprende a apurar. Afina o dom de ouvir, argumentar e confrontar. Torna-se cético, não mais o pessimista. Resolve seus quebra-cabeças envolvendo-se na edição criteriosa de falas e imagens. Cria paisagens contextuais. Esse futuro profissional amadurece interações e elabora perfis. Também acende emotividades fundamentais em suas narrativas – como a compaixão- protegendo-as dos escorregões dramáticos. Ou fatalistas. Aprende que o senso comum precisa ser despedaçado, destemperado, desafiado, assim como a suposição de poderes. E que a realidade social é complexa, opaca, e quase sempre não justa. Tem certeza de que há vozes e anseios que precisam mediatizar.

Quando vira jornalista, não duvida de que é necessário transformar seus desbravamentos em poéticas visuais cada vez mais originais. E exercita, desde cedo, a manipulação de símbolos, metáforas, alegorias e códigos da comunicação social. Apossa-se de um estilo, de uma marca, de uma grife. Percebe seu ofício como um emaranhado jogo de compreender e explicar: gerar tramas em narrativas autorais.

Esse cara especial, o jornalista-documentarista, aceita que, no final das contas, o melhor a fazer com a câmera na mão é instigar e sempre instigar múltiplas possibilidades de cognições e sinapses. Aquelas que ligam pessoas comuns a seus impérios de direito.


Nota do Editor: Celso Bodstein é Doutor em Multimeios pela Unicamp e Professor da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. É também docente no Labjor/Unicamp.

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