A UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura - divulgou na semana passada uma pesquisa que aponta os municípios de Itapecerica da Serra, São Sebastião e Caraguatatuba com a média mais alta de homicídios no período de 2001 a 2003. É um verdadeiro balde de água fria para quem procurou essa região, fugindo da violência da Capital, como é o meu caso. Na região de Interlagos, onde morava, era cada vez maior o número de casas fechadas devido à mudança dos proprietários e à dificuldade de vender ou alugar o imóvel. Fiquei muito assustado e, ao mesmo tempo aliviado por Ubatuba ainda não estar entre as dez mais violentas. Como sou novo na região, não tenho muitas informações para explicar as causas dessa situação. Ontem, ao encontrar um morador de "Caraguá" perguntei a ele quais seriam as causas. Para ele, isso é a conseqüência de uma administração que não investe no social. O Sr Secretário de Segurança Pública comentando esses dados afirmou que no Estado todo houve uma baixa de 12%. Então, por que aumentou nesses três municípios? Por que abaixou na Capital? Durante vários anos o Jardim Ângela, na Capital, era apontado como um dos lugares mais violentos do mundo e o 1º da Capital. Hoje, ele está em 4º ou 5º na Capital. Enquanto o Estado abaixou 12%, o Jardim Ângela abaixou 33%, de acordo com os dados fornecidos pela equipe que desenvolve o Projeto RAC - Redescobrindo o Adolescente em Comunidade, que esteve aqui em Ubatuba no dia 13/05 para lançar o livro em que eles relatam o trabalho desenvolvido pela comunidade. Houve um grande esforço da comunidade que conseguiu articular mais de 100 instituições da região para debater o problema e encontrar soluções. No entanto, segundo a equipe, isso não seria possível sem o apoio da Prefeitura de São Paulo através de seus projetos sociais. A equipe teme não poder dar continuidade devido aos cortes nos gastos feitos pela nova administração. É importante ressaltar que, tanto a Marta quanto a Erundina, que investiram mais na periferia não foram reeleitas, talvez devido ao tratamento que a grande imprensa deu aos seus governos. O governo da Erundina mais que duplicou a capacidade hospitalar; Marta, com os CÉUS, triplicou as oportunidades culturais, com as instalações de teatros, cinemas e oficinas culturais. Com isso, ver os filmes da Mostra de Cinema de São Paulo, uma das mais importantes do mundo, ou tocar violino ou piano, deixou de ser um privilégio da burguesia. Todas as pesquisas apontam a oferta de atividades culturais como uma das formas mais eficientes para reduzir a violência, mas isso não tem importância para a imprensa que está comprometida com os donos do poder. Embora Ubatuba esteja entre os 20 municípios mais ricos, a disparidade social é imensa porque seu IDH - Índice de Desenvolvimento Humano é o pior do Litoral Norte e um dos piores do Estado. Muitos moradores vêem com certa inveja o desenvolvimento das cidades vizinhas; no entanto, esse desenvolvimento sem planejamento adequado e sem participação popular trouxe como conseqüências a perda de suas raízes culturais e a violência. Talvez o que explique os baixos índices de violência de Ubatuba seja o seu isolamento e a valorização de sua cultura e de suas tradições. Recentemente, grupos populares de Ubatuba foram convidados a se apresentarem na vizinha "Caraguá". Lá, eles têm um moderno teatro; aqui, não. Cultura pode gerar renda, empregos e melhor qualidade de vida. Senhores políticos e governantes, que tal investirem nessa idéia?
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor em Ubatuba (SP).
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