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Opinião
31/05/2005 - 16h06
Maquiavel em meio aos pinheirais
Dartagnan da Silva Zanela
 

Todo aquele que veio a se debruçar sobre as laudas escritas por esse florentino, Nicollo Machiavelli, nos idos da renascença, se espanta com a similaridade que há entre as atitudes sugeridas pelo mesmo para que os governantes pudessem assim se manter no poder com a realidade dos fatos da vida política. Todavia, isso não é sinônimo de que venham os nossos governantes nos Paços Municipais e bem como as Casas Legislativas tenham tido contato com a obra O PRÍNCIPE.

Uma pelo fato de boa parte deles serem analfabetos funcionais e como tal, por terem decorado algumas regras gramaticais acreditam que sabem ler e assim adentrar toda e qualquer seara do saber e do fazer humanos. Quanto aos que sabem ler, se encontram a uma distância magna do que poderíamos classificar como um homem letrado. Pedir a leitura de Machiavelli para essa gente, é pedir demais.

Talvez, por esse fato, as páginas de Machiavelli são geniais quanto a sua proximidade do universo empírico da vida política, não por que todo tiranete ou candidato a tal sejam pessoas que tiveram contato com sua obra, mas sim, pelo fato de esse chanceler no seu exílio, ter depositado com seu tinteiro e pena em punho aquilo que ele captou da alma humana de seu tempo quando diante do poder apontando-nos todos os caminhos para se conquistar, permanecer no poder e, como perdê-lo. E, no nosso caso, compreendê-lo.

Poderíamos comentar página a página e compará-las com os desmandos de nossas "autoridades". Mas tal empreitada seria por demais deprimente. Iria entristecer por demais minh’alma e não é minha intenção com meus libelos procurar uma via para entrar em depressão, mas sim, quanto esse é o assunto, divertir-me com meus olhares e impressões da comédia pastelão da vida pública brasileira.

Fala-nos ele no capítulo XX (Se as fortalezas e muitas outras coisas feitas cotidianamente pelo Príncipe são úteis ou não), que: "[...] os homens a princípio hostis às instituições de um novo governo necessitam, para manter-se, de ajuda, e o príncipe sempre poderá conquistá-los facilmente. Eles, por sua vez, vêem-se obrigados a servi-lo com tanto mais lealdade quanto reconheçam a necessidade de eliminar, pelas ações, a péssima opinião que o príncipe fazia a seu respeito. [...] constatar-se-á que ao príncipe é muito mais fácil ganhar a amizade dos que se sentiam satisfeitos com o regime antigo, e que são, assim, seus inimigos, do que daqueles que, por descontentes, tornaram-se seus amigos e aliados, auxiliando-o na conquista do Estado".

Exemplo dessa postura encontramos aos borbotões em nossa história. Os republicanos que combatiam D. Pedro II e vira e meche estavam indo ao seu encalço para lhe solicitar um cargo para fulano ou cicrano, fazendo assim o Imperador se rir das diabruras deste, como nos aponta Raymundo Faoro (Os donos do poder - vol. II). Recentemente, vemos no congresso nacional, toda aquela corja fisiológica que temia a possibilidade de um governo petista e que hoje lá está para lamber as suas botas enlameadas pelos seus desmandos protototalitários.

Ou então, olhemos para as nossas cidades. Quantos vereadores revoltosos que de uma hora para outra se silenciavam e até mesmo defendiam aquele que até a pouco condenavam? Não apenas legisladores municipais, mas também "cidadãos" que sempre bravejavam contra o seu governante chinfrim e, de repente, entupeta casa, carro, cachorro e papagaio com propagandas do mequetrefe. E me pergunto: a troco de que? Aliás, perguntemos de outro modo: por quanto ou, em troca de que favor? Esses tipos, infelizmente não faltam nestas terras e estão presentes em todos os lados, seja à destra ou à sinistra.

Mas, se você como eu, é um daqueles cidadãos que acredita que é possível edificar-se não um "mundo melhor possível", mas pelo menos uma cidade melhor, desvencilhe-se de suas ilusões românticas, do mesmo modo que fez o nosso pensador florentino e procure ver a política como ela é para assim, quem sabe, torná-la mais próxima do que deveria ser.

Você pode ficar um pouco enjoado, com náuseas, mas nada que um engove antes e outro depois não resolva.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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