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COLUNISTA
Marcelo Sguassábia
28/07/2016 - 06h44
Manuscrito de Elantra
 
 

Não demorou muito para perceber que o mundo tinha acabado, e que aparentemente só restava o que sobrou de mim para fazer companhia às bactérias.

É impossível precisar como ou quando exatamente recobrei os sentidos após a hecatombe, e o que a desencadeou. Não houve aviso nem pânico que a precedesse. Seja lá o que tenha acontecido, foi muitíssimo rápido o golpe de extermínio. Enquanto tirava o pó dos olhos e ensaiava uns passos com o que supunha ainda serem minhas pernas, tentava adivinhar a causa entre as possibilidades mais plausíveis: o louco ditadorzinho de Oregons Lanontry em incontido surto megalômano, um meteoro em súbito desvio de rota, um insuspeito arsenal nuclear do Estado Setentrional, quem sabe a fúria da natureza em desastroso revide.

Nem a céu aberto (e é tudo a céu aberto agora), nem sob os escombros havia sinal de água ou comida. Nenhum inseto voador ou rastejante. O que se conhecia por matéria parecia afetada em seu nível molecular. Objetos e seres ganharam um contorno inédito e sem definição possível. Mas isso parecia ilógico, uma possibilidade que contradizia a minha relativa inteireza física e o meu raciocínio para escrever. Como somente eu não estava destruído ou transformado em outra desconhecida coisa, ainda mantendo sentidos e consciência, ao contrário de tudo ao redor?

Este relato, escrito com o que melhor se aproximava de um lápis sobre aquilo que melhor se aproximava de uma folha de papel, ficará guardado numa caverna, como os manuscritos do Mar Elantra, até que alguém o encontre, caso o mundo - contrariando meu aparente julgamento - não tenha acabado. Ou venha, de alguma forma, a ganhar vida de novo.

Uma nuvem ocre me alcança agora, com forte odor de amônia, trazendo junto um frio que em dois ou três minutos frustrará qualquer intenção de movimento, seja para escapar da caverna ou para esconder-me ainda mais no fundo dela. Encolhido em posição fetal, prendo o quanto posso a respiração até que a nuvem venenosa perca um pouco a densidade. E recordo, nostálgico, nosso acolhedor planetinha Júpiter em seus dias mais felizes.


Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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