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Opinião
06/08/2016 - 07h53
Corações que salvam vidas
Roberto Kalil Filho e Fabio B. Jatene
 

O sistema de controle público de transplantes no Brasil é relativamente recente, tendo sido instituído há menos de 20 anos. Na década de 90, chegou a se aprovar uma lei no país estabelecendo que todo cidadão era doador presumido de órgãos. Na prática, a legislação não funcionou porque a classe médica manteve a conduta de só seguir adiante com o processo doação-transplante se houvesse a anuência da família do doador. De toda forma, a implantação do sistema foi um marco na saúde brasileira e hoje o Brasil é o segundo maior transplantador de órgãos do planeta, atrás apenas dos EUA. Foram estabelecidos protocolos e critérios adequados para captação e distribuição dos órgãos, e criadas as centrais estaduais de transplantes, interligadas a uma central nacional comandada pelo Ministério da Saúde.

Atualmente, cerca de 90% dos transplantes de órgãos realizados em todo o país são feitos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), que reconhece nesse tipo de cirurgia complexa um procedimento estratégico, isto é, a remuneração não segue o clássico critério de cotas. Mais ainda, a rede pública de saúde garante o fornecimento de medicamentos caros para que os pacientes transplantados possam fazer o tratamento pós-operatório e, assim, evitar a rejeição dos órgãos. O Estado de São Paulo tem peso preponderante no programa nacional de transplantes por sua reconhecida eficiência que passa pela existência de diversos centros de excelência, com equipes altamente capacitadas e comprometidas para realizar um transplante a qualquer momento.

O primeiro transplante de coração no Brasil foi realizado em 1968, no Hospital das Clínicas, pelo professor Euriclydes de Jesus Zerbini e sua competente equipe. O lavrador João Ferreira da Cunha, o “João Boiadeiro”, que recebeu o órgão, veio a falecer 28 dias após a realização do procedimento, devido a complicações relacionadas com a rejeição do órgão. Contudo, a repercussão desse fato histórico foi tamanha que o então governador de São Paulo, Abreu Sodré, assinou o decreto que criaria o Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Quase cinco décadas depois, no InCor, entre transplantes de coração e de pulmão, acabamos de superar a marca do milésimo transplante. Um feito também histórico e não apenas simbólico, pois é a prova cabal do esforço institucional, de seus médicos e de toda a equipe multiprofissional, em busca de um dos principais programas de nossa instituição. As cirurgias de transplantes começaram a ser realizadas no InCor em 1985 e, desde então foram realizados 564 transplantes de coração em adultos, 230 de coração infantil e 286 de pulmão, totalizando 1.080 operações até o presente, com resultados comparáveis aos dos melhores centros do mundo, sendo que o InCor responde por mais de 40% do total de transplantes de coração realizados em todo o Estado e por 37% dos transplantes de pulmão do país. Entretanto, embora nos últimos 10 anos tenhamos dobrado o número de transplantes cardíacos realizados no país, precisamos seguir crescendo pois ainda realizamos em termos proporcionais pouco mais de 20% dos que são realizados nos Estados Unidos. A criação do Núcleo de Transplantes do InCor, que foi um marco de gestão, pois permitiu agrupar todas as áreas de atuação de nossa instituição, criando um programa multidisciplinar com sinergia e alta eficiência, deve ser replicado em outros centros do nosso país, para permitir que possamos seguir crescendo de forma sólida.

É necessário que se aumente o número de doadores, pois existem filas e pacientes morrem enquanto esperam sua vez para serem transplantados. Embora, entre 2008 e 2015, tenhamos duplicado o número de doadores em todo o país, hoje ainda ocupamos a 25ª posição, em número de doadores efetivos, em proporção à população, em um ranking dos 50 países maiores doadores de órgãos. Para que esse crescimento continue a ocorrer são necessárias campanhas constantes de sensibilização da sociedade, uma vez que somente com autorização formal das famílias é possível iniciar o processo de doação-transplante.

O Brasil vem avançando de forma consistente na área de transplante de órgãos e tecidos. É motivo de orgulho para o InCor e todo o seu corpo clínico ter ajudado a escrever parte dessa importante história.


Nota do Editor: Roberto Kalil Filho, médico cardiologista, é presidente do Conselho Diretor do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP. Fabio B. Jatene, cirurgião cardiovascular e torácico é vice-presidente do Conselho Diretor do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP.

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