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COLUNISTA
Marcelo Sguassábia
08/08/2016 - 07h21
Sonho olímpico
 
 

"O melhor emprego do mundo: salva-vidas da Olimpíada tem visão privilegiada. Uma lei estadual que determina que todas as piscinas do Rio tenham um salva-vidas criou um posto incomum na história olímpica. Além de não ter muito o que fazer, o salva-vidas tem a melhor vista da competição." (Folha de S. Paulo, 2 de agosto de 2016).

O que ele mais desejava na vida era também o sonho de quase todo descendente de Adão: ter um emprego com garantia absoluta de não precisar trabalhar. E conseguiu. Só por alguns dias, mas conseguiu.

Juntando os aquecimentos, os treinos, as etapas classificatórias e as provas propriamente ditas, eram horas e mais horas ao dia de proveitoso ócio ao abrigo do sol, deixando a mente fluir por onde bem entendesse e descartando definitivamente a possibilidade de precisar pular na água para livrar o Phelps e outros golfinhos humanos do afogamento.

Foi fácil se acostumar ao dolce far niente e a não querer jamais outra coisa. Bebida, só pedir. Comida, idem. Aborrecimento, nenhum. Cansaço, nem pensar. Quem tinha que trabalhar duro e romper os limites da própria carcaça e dos adversários eram aqueles infelizes ali, curtidos em cloro. Sobrava ócio até para meditação transcendental. As idas e vindas dos nadadores, de uma ponta a outra da piscina, funcionavam como um mantra quase hipnótico. Mas tinha que se policiar para não fechar os olhos, pois aí seria demais - alguém poderia acusá-lo de negligência no exercício da profissão.

Como nenhuma água é tranquila para sempre, de uma hora para outra o nosso folgado guardião tombou para trás. Alguns membros do staff olímpico acharam que tinha, enfim, sido vencido pelo sono. Mas a coisa mudou de figura quando um espesso cordão de sangue vazou pela caixa craniana fraturada. Bala perdida. Morte instantânea em uma das provas de classificação mais disputadas - a dos 50 nado livre. Não era a competição final, mas estava sendo televisionada. O corre-corre chamou a atenção dos nadadores, que lançaram-se quase ao mesmo tempo fora d'água para tentar dar salvação ao salva-vidas, numa surreal e trágica inversão de papéis. Expectadores, juízes, repórteres, preparadores físicos - todos cercando a vítima feito baratas tontas, sem saber se acreditavam na versão carioca da bala perdida ou na versão terrorista da bala certeira.


Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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