A cada passo das investigações sobre os esquemas de corrupção, fica mais clara a necessidade da mais ampla reforma político-institucional. Partidos políticos, detentores de cargos eletivos e de livre nomeação, que deveriam desfrutar do prestígio da comunidade a quem têm a obrigação de servir, têm suas biografias manchadas por uma escala de procedimentos reprováveis. Além da derrocada da presidente Dilma, de Lula, do PT e de seus ainda aliados, vislumbra-se as mais variadas vertentes da política nacional com os pés dentro da mesma lama, oferecendo à população a impressão de que nesse meio são todos ladrões. Tanto que esse raciocínio é o mais banal empregado pelo povo em relação à classe política. O país já deu um grande salto ao identificar os grandes escândalos, que levaram à prisão pelo menos parte dos que, reconhecidamente, roubaram a nação. Essa é uma obra de que a sociedade não pode abrir mão. Mas também não pode ser única, pois sua atuação se dá sobre os efeitos, quando também é importante eliminar as causas. A corrupção é conhecida no Brasil desde a época da Colônia, sobreviveu ao Império e tornou-se endêmica na República. Foi o pano de fundo para as rupturas institucionais, mas nunca deixou de existir, em menor ou maior proporção, como bem registra a história. Nas últimas décadas, onde os ditos democratas (inclusive os que lutaram pela ditadura) usaram as liberdades e os direitos das minorias como pirotecnia, montou-se partidos, maiorias parlamentares e esquemas de governo sustentados pela corrupção. Partidos políticos, ONGs e assemelhados tornaram-se meios de vida para uns poucos e não resistem a uma simples análise contábil. Temos um país desenvolvido, com grandes possibilidades e uma classe política apodrecida. As mudanças são inadiáveis. É preciso reinventar a vida dos partidos políticos e estabelecer normas sustentáveis de campanha eleitoral para que não sejam levados a se sustentarem da corrupção. Os governos não podem sofrer aparelhamento e nem serem reféns de grupos. Numa reforma, temos de reconstruir a imagem do parlamentar como representante do povo e não de grupos de interesse, e de governos voltados para a grande tarefa de administrar e fazer a sociedade avançar. Mas não pode ser esquecida a adoção de mecanismos que tornem mais fácil o afastamento daqueles que tenham de desviado dos propósitos e da liturgia dos seus postos. E, quanto aos que já se mancharam com a nódoa da corrupção, que se entendam com a Polícia, o Ministério Público e a Justiça... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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